A maioria das pessoas que vivem
no interior, quando chegam à capital sentem-se cansadas. Normalmente o choque é
grande.
Ninguém percebe de imediato o
motivo disso, mas a soma de fatores como poluição visual, medo de assaltos,
maior quantidade de gente, poluição sonora, quantidade de carros e
estabelecimentos comerciais, distâncias entre as coisas, tamanhos de imóveis,
etc, fazem com que cansemos nosso cérebro e iniciemos a aplicação de filtros.
Uma espécie de treinamento da mente para ignorarmos a overdose de informações a
fim de garantirmos a saúde mental.
Lembro perfeitamente que quando
saí de Santo Ângelo orgulhava-me em conseguir reparar quantidades gigantescas
de detalhes em uma pessoa com apenas um rápido passar de olhos, e ainda às
vezes com visão periférica.
Sempre enxergava as pessoas na
rua, os prédios, as casas, os carros e os conduzidos dentro deles.
Hoje, depois de ter morado uma
década em Porto Alegre, se eu não ficar olhando por bastante tempo, não consigo
mais auferir os mesmos dados de quando saí da minha missioneira terra natal.
Brinco com meus amigos que as casas “materializam-se” em minha frente. Esses dias descobri que havia uma casa rosa do outro lado da rua de meu prédio, que para
mim havia acabado de materializar-se, mas que sempre estivera lá.
Esse certamente é um dos
principais motivos para a deficiência de atenção.
Isso é natural e aceitável quando
temos muita informação de todos os tipos e por todos os lados. Nosso cérebro
cansa demais para processar e nos deixa esgotados ao final do dia. Como defesa
ele começa a filtrar o que não é necessário, importante ou interessante. Dessa
forma já não reparamos mais em pessoas na rua, nem em outdoors e propagandas, e
até
Outro ponto que contribui para
ignorarmos o mundo a nossa volta são as profissões focais, as especializações e
afins. Como exemplo cito minha cunhada que é dentista e está acostumada a
trabalhar focada na boca, mais especificamente no dente do paciente. Mesmo que
ela não queira, isso acaba tornando-se uma característica do dia-a-dia. Ela treina
constantemente seu cérebro a ver focalmente e acaba aplicando o raciocínio do
foco para tudo. Hoje ela é mais produtiva, incontestavelmente, mas
eventualmente não percebe coisas que ocorrem concomitante a determinados
acontecimentos, ou seja, acostumou-se tanto
a focar, que filtra o restante de
informações que poderiam vir.
Seguindo o exemplo dela temos
outros casos de pessoas que acostumam-se a focar tanto que quando entram em
algum debate não conseguem perceber os outros pontos e opiniões, ou quando lêem
um livro não percebem as interpretações subjetivas e corretas dos autores.
Então de hoje em diante, não se
culpe caso as coisas passem despercebidas aos seus olhos. É apenas seu cérebro
treinado a filtrar informações descartáveis e reter apenas o que interessa. Mas
preocupe-se, pois seu cérebro normalmente considera coisas importantes como
sendo algo a não armazenar.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 16.03.2013
Editado/corrigido por Patrick Heinz e @AnaLeticiaSilva
Editado/corrigido por Patrick Heinz e @AnaLeticiaSilva
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
www.rodrigozucco.com.br