“A incapacidade para criar e apreciar
a
excelência, ou seja, a mediocridade, é necessária para a
estabilidade social:
um mundo de gênios seria ingovernável. Todavia, possui também uma
vertente
maligna que procura destruir qualquer indivíduo que se destaque.”
“Quando surge um verdadeiro gênio no
mundo,
podemos reconhecê-lo pelo seguinte sinal: todos os medíocres
conspiram contra
ele.” Foi assim que o médico, aventureiro e escritor irlandês
Jonathan Swift
(1667–1745), autor de As Viagens de Gulliver, resumiu a
eterna tensão
entre excelência e mediocridade, duas características da
psicologia humana que
exercem grande influência no funcionamento da sociedade. “Cada uma
se rege
pelas suas próprias leis e ambas são necessárias: uma promove o
progresso, a
outra assegura a estabilidade social.”
Assim começa um dos melhores textos
que já li da
Super Interessante de março de 2011.
O
texto considera gênio quem é criativo e busca sempre ver o lado
bom em cada um
e em todas as coisas, e considera medíocres pessoas que ao invés
de tentarem
ser melhores, preferem falar mal e boicotar os competentes.
A pesquisa do texto levantou três
tipos de
mediocridade: a comum, que é inofensiva e faz com que os humanos
se adaptem
facilmente mesmo não gostando muito do que fazem; a
pseudocriativa, que além
das características anteriores, tenta minar a criatividade dos
outros. Esse
segundo tipo é o mesmo já citado por mim em outro texto e fala
sobre como esse
tipo tem necessidade de ostentar algo que não possui; e o terceiro
tipo, que é
o pior, pois se propõe e se esforça de todas as formas em destruir
o gênio.
Cito esse texto justamente agora pois
tenho visto
que no Facebook há uma crescente onda de néscios engajados em
denegrir boas
idéias, opiniões próprias e fundamentadas, criatividade, gente com
personalidade e opinião formada.
É bem simples, basta que alguém crie
algo novo,
tenha uma idéia autêntica, original e que consiga pensar “fora da
caixa” para
ser apedrejado virtualmente. O bullyng do colégio passa vergonha
perto do que
sofrem as pessoas que tem a capacidade de pensar por si com idéias
próprias.
Ou se curva à mediocridade néscia, ou
aceita a
crucificação com todas as chagas que lhe são devidas de acordo com
a massa
rotulante.
Não há mais tolerância com o
pensamento alheio.
Não se pode ter convicções sobre determinado assunto a não ser que
ela seja
absolutamente idêntica à massa ignorante, ou a mesma fará um
esforço
desproporcional para não apenas desqualificar sua idéia como
também a sua
pessoa e queimar em praça pública seus valores e caráter,
colocando-o numa
fogueira de bruxas, ardendo por fazer a mágica da opinião firme.
Não sendo suficiente não poder pensar
diferente,
é necessário não pensar e não manifestar, sob pena de ser ofendido
pessoalmente
ou mesmo agredido fisicamente.
Outra parte do texto que endossa esse
meu
raciocínio é: “Será possível que estejamos condicionados por uma
espécie de
seleção cultural que nos condena à imbecilidade?”(sic), questiona o escritor italiano Pino Aprile no
seu livro Elogio
do Imbecil. Conclui que sim e que existe uma razão para
todos os sistemas
sociais advogarem a mediania: “A inteligência é como a areia que
se introduz
nas engrenagens: pode obstruir os mecanismos. O génio é
subversivo, não apenas
por discutir a norma em vez de a aplicar, mas também por
bloquear, através da
sua atuação, o percurso habitual de qualquer sistema burocrático”(sic). Por isso, segundo o
autor, “o
poder de uma organização social humana será tanto maior quanto
maior for a
quantidade de inteligência que conseguiu destruir”.
A sutileza insidiosa que domina a
sociedade não
impera o mundo virtual, onde as pessoas dão as caras e corroem com
toda a
acidez que impediram escapar pelo canto da boca no dia a dia
frustrante e
medíocre.
Uma das explicações é abordada pelo
princípio de
Peter, e embora não seja a única, faz sentido. Segue: “Numa
empresa ou
organização, qualquer trabalhador tende a ascender até atingir o
seu nível de
incompetência.” Se nos promoverem devido aos nossos méritos,
acabaremos por
ocupar um cargo para o qual não temos competência e deixaremos de
nos destacar
(e de ascender), permanecendo enquistados no nosso nicho de
mediocridade. Uma
das consequências é que quem alcança o seu nível de incompetência
poderá
sentir-se tentado a boicotar os subordinados de forma a não serem
promovidos
(ou mesmo a serem despedidos). Assim, acaba por agir como uma
espécie de tampão
involuntário para as próximas gerações. Os norte-americanos, que
levam muito a
sério a questão da eficiência, adiantaram algumas soluções, como a
de premiar
um bom trabalhador com um aumento salarial em vez de uma promoção.
Todavia,
parece que entram em jogo outros fatores no complexo sistema da
mediocridade.
O que fica então é o voto aos gênios
para que não
desistam, pois as mudanças passarão necessariamente por suas mãos,
mesmo que os
medíocres tentem boicotá-los.
Obs.: Tem um teste no final para
verificar se
você é gênio ou medíocre.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 11.01.2014
Corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br