Quando
eu era criança pensava em muitas coisas. Queria ser gaúcho,
milico e doutor - e
por doutor entendam médico e não doutor com doutorado.
Queria
uma namorada legal e bonita (não necessariamente nessa mesma
ordem). Queria ter
dinheiro, ser bonitão, ter cabelo comprido, toda a coleção dos
comandos em ação
e uma bicicleta especial. Queria ter muitos amigos e, sobretudo,
ser bem
sucedido em tudo que eu fizesse. Queria este último em
particular, mas sem essa
clareza que tenho hoje.
Tinha,
como toda criança tem, algumas referências. Os “modelos de
sucesso”. Como meu
irmão, que tinha sempre as namoradas mais legais e gatas, meu
padrinho bem
sucedido, meu vizinho com sua bicicleta incrível...
Hoje
eu fico pensando... E se por acaso eu pudesse olhar por alguma
janela do tempo
e, enquanto criança, vislumbrar meu futuro?
E
se pudesse ver aos 5, 8 ou 10 anos o que me tornei hoje, como
sou, como
construí minha vida?
Como
será que eu reagiria? O que sentiria? Pena? Vergonha? Orgulho?
Será
que eu ficaria ansioso por chegar de uma vez nesse futuro e ser
quem hoje sou?
Será que ia gostar da pessoa que me tornei, mesmo sem cabelos e
muitas outras
coisas que, na minha visão infante, eram indispensáveis?
Pois
hoje, exatamente hoje, eu tenho essa resposta. Eu pensaria algo
do tipo: “Bãããi
que linda minha namorada! Que massa o relacionamento que terei
com ela! Que tri
meu trabalho, minha função, minha empresa e meus amigos!!! Cadê
meu cachorro?
Não tenho um carrão? Não sou rico? Cadê meus cabeeelooos?”
Mas,
certamente ia querer sair falando para todo mundo o que/quem eu
havia me
tornado, com o peito estufado e muito orgulho. Possivelmente até
fosse levar
mais a sério o colégio e o resto das coisas.
Mas
essa não é a grande reflexão que trago hoje. Meu objetivo com
esse texto é lhe
provocar a pensar em como você acredita que se enxergaria hoje
se estivesse se
vendo do passado. O que acha que pensaria?
Eu
explico o motivo do questionamento. Se o que você se tornou não
causa orgulho,
vontade, emoção e desejo no seu eu de infância, muito
provavelmente você não é
o que ou quem deveria ser, e ainda há tempo (sempre há) para
mudar o rumo de
sua vida, radical ou parcialmente e buscar novos caminhos.
Desenvolver
um novo futuro para que ao menos daqui algumas décadas, quando
puder fazer a
mesma reflexão, entenda que seu eu de hoje ao olhar para o
futuro verá alguém
que ele quer ser e por quem valha a pena dedicar anos, noites,
tempo e vida.
Pense
em quem você é, pense em quem queria ser quando era novo, e
pense
principalmente em quem você quer ser, pois assim, quando estiver
deitado em um
sofá no colo de alguém que quer bem, possa respirar fundo e
pensar: “era isso
mesmo o que eu queria!”.
Quando
estiver assando uma carne com os amigos e falando besteira,
possa olhar para
todo o cenário e saber com a alma lavada que isso é a colheita
de um bom
semeio.
Para
quando estiver curtindo um final de semana com a companhia mais
especial, saiba
que foi por mérito e que é exatamente ali e assim que queria
estar, e sentir-se
feliz com isso, valorizando o momento.
Que
entenda que está fazendo o seu papel para melhorar o mundo,
gerando empregos
(ou não), transformando sua sociedade com exemplos e atitudes e
legando ao
universo algo que realmente fará a diferença, mesmo que
ridiculamente pequena.
Para
que, se por um milagre o seu eu criança o veja hoje, fique com
os olhos
marejados de felicidade, e conte os dias para chegar finalmente
nesse déjá vu.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 29.08.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br