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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Teoria da Batata Frita






Chega um dia em que você resolve que irá comer arroz com feijão pelo resto da vida. Arroz com feijão é a comida mais deliciosa, saborosa, nutritiva, interessante, divertida e prazerosa que existe. Não há no mundo algo melhor que arroz com feijão.  A partir de hoje, comerei apenas arroz com feijão até o final dos meus dias.
Passa a primeira semana e está tudo maravilhoso. Arroz com feijão é tudo que você sempre quis, divino. No primeiro mês, comendo arroz com feijão todo dia, está tudo a seu favor. Você fez a escolha certa. Como gosta de arroz com feijão. Nossa!
Passa o primeiro ano. Todos os dias comendo arroz com feijão e você já começa a trocar o feijão preto pelo marrom, pelo feijão branco, mas continua firme no arroz com feijão, pois é a melhor coisa do mundo. Não há nada melhor do que comer arroz com feijão.
No segundo ano você já está comendo arroz preto, branco, amarelo e marrom, com todas as cores de feijão, mas continua, embora já sem tanta convicção repetindo a si mesmo que arroz com feijão é a escolha certa, que é a melhor coisa do universo, nutritivo e tudo que você sempre quis. Tudo de bom.
Normalmente, lá pelo quarto ou quinto ano, você já experimentou todos os tipos de feijões existentes no planeta, bem como o arroz e as combinações de ambos, desde feijão preto com arroz branco a arroz preto com feijão branco. Já testou todos os restaurantes da cidade, estado, país e de mais dois continentes. Testou pratos de porcelana, louça, vidro e plástico. Todos os temperos imagináveis, os doces, azedos, picantes, e todas as variações possíveis destes com os tradicionais.
Eis que então, concentrado naquele restaurante novo que prometia um tempero revolucionário, sozinho, você sente AQUELE cheiro. Preste atenção! Está sentindo aquele cheiro? Olha para a direita, é de lá que vem. Olha lá. Hummmm, cheiro de...? BATATA FRITA!!!
Que desgraça. Cinco anos na linha. Você sabe que sua opção é por arroz com feijão, mas aquele cheiro de batata frita está lhe matando, consumindo-lhe por dentro. Aí você já consegue lembrar-se do gosto da batatinha, da sensação dela sendo esmagada com sua língua contra o céu da boca, os dentes apertando ela até que a parte crocante ceda e a parte macia de dentro transborde, esparramando-se pela boca, fazendo a fumaça do calor, desprendendo- se e vagando rumo às narinas, inebriando o olfato e todas as lembranças que esse sentido desperta, fazendo a boca salivar ainda mais.
Então você olha para o lado e percebe que o inebriante e maravilhoso cheiro está vindo do prato de uma mesa ao lado. A batatinha é murcha e gordurosa, mas droga. Que se dane. É batatinha. Tem cheiro de batata frita, gosto de batata frita. É batata frita e, definitivamente, não é o arroz com feijão dos últimos cinco anos.
Esse momento é o grande divisor de águas de todas as pessoas. Deve-se escolher entre ficar com o arroz com feijão ou com a batata frita, e se já chegou na fase de todos os temperos e restaurantes e tipos de arroz com feijão, a menos que a pessoa seja muito hipócrita, covarde, acomodada ou burra, ela come a batata frita. Muitas, devido a índole, caráter, formação, educação, se despedem do arroz com feijão e partem para a batata frita dali para frente. Outras, já de moral duvidosa, mas que será explicado oportunamente pela teoria “NÃO EXISTE SER HUMANO FIEL”, acabam comendo arroz e feijão com batata frita. E tem algumas que conseguem até comer tudo no mesmo prato.
O que realmente deve ser observado é em que fase está: já chegou no último estágio dos temperos, restaurantes, pratos e tipos? Se sim, então tenha certeza, irá comer a batata frita. Não? Parabéns, por enquanto, pela escolha. Terá mais tempo de arroz com feijão. Algumas pessoas realmente comem arroz com feijão até o final, sem querer outra coisa. Mas serei honesto, das poucas pessoas que conheci nessa situação, nem 10% eram satisfeitas, estavam frustradas e infelizes. Pessoas enlanguescidas, acomodadas na zona de conforto.
A escolha é sua. Não precisa me dizer, não quero saber se você é fiel ao seu arroz com feijão. Isso cabe a você e a sua consciência. Mas não tente me convencer que não se encaixa nessa teoria, ou tampouco me provar que faz parte justamente da microamostragem x ou y. Você sabe quem você é e o que faz. E eu também.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 22.04.2012
 Escrito por:  @rjzucco

7 comentários:

  1. Você anda comendo batata frita com arroz e feijão, com certeza.

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  2. Huehauheuae
    Por que achas? O que te fez chegar a essa conclusão? Acho que tu não leu o quem sou eu né?
    ;)

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  3. Primeiro, não te defende se insinuarem algo a teu respeito. A teoria é tua e agora agüenta as "acusações". ;)

    Acho que eu já te disse que tu levas muito na ponta da faca quanto à questão de moral das pessoas. Moral é algo artificial, não é da natureza humana o "ser moral".

    Não que seja nato do ser humano a imoralidade, mas não é algo indigno alguém ter a coragem de se atirar numa batata frita. Falo em coragem porque, para muitos, a batata frita é tão desafiadora, tão além da imaginação, que perdem a oportunidade de, talvez, serem mais felizes "caindo de boca" na batata frita.

    Também acho que aqueles que decidem ficar comendo feijão com arroz, devem fazê-lo porque realmente entendem que isso é bom e que é o melhor para si. Quando uma tentação surge porque tu já não aguenta mais o feijão e suas variações, a culpa não é da batata, mas do feijão que já não satisfaz mais.

    Depois escrevo mais!!!
    Abrass

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  4. Arroz-com-feijão-batata-frita-e-bife-com-gordurinha!
    Esse sou eu! Mas sempre rola uma mea culpa, e de qqr forma rolaria...

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  5. O arroz com feijão é satisfatório e é esse o ponto. Só se procura a batata frita e ou outro prato de arroz com feijão se não for mais satisfatório, mas aí o problema é outro.

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