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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fenômenos da natureza


Uma visão muito particular minha a respeito dos acontecimentos do tempo, comparando-os aos relacionamentos. Coisa bem íntima, mas que creio que muitas pessoas vão se identificar. 

Estava viajando e assistindo o céu. Lembrei da melhor definição de fantástico que já pude presenciar até hoje, uma tempestade de relâmpagos.

É muito curioso, e ao mesmo tempo interessante, como se pode comparar esses fenômenos da natureza a sentimentos. Uma paixão, com todo seu torpor, não poderia ser melhor comparada do que a uma tempestade de relâmpagos. As danças desses fios de luz, bamboleando ao redor das nuvens, iluminando feito flashes, desenhando o céu e irrompendo os pontos mais escuros, transformando-os em surpresa e fascinação, feito os sentimentos e as sensações que descobrem facetas novas de nosso caráter. Paixão pura, abrupta e fervorosa.

O amor. Como um céu limpo e sereno num dia de sol, com brisa morna e calma, incitando a harmoniosa corroboração pacifista da natureza. Talvez com lindas nuvens que de mansinho desenham ludicamente formas entretendes¹, ou mesmo quando fecha os olhos e mostra as estrelas e a lua da noite, a inspiração dos românticos enamorados com suas pequeninas janelas de luz ou a majestosa imponência branca frente a escuridão celestial noturna.

Tristeza. Chuva constante e insistente, com humidade que já esgotou a paciência. Saudades do sol, falta do calor, frio que não gela, "cinzencidão". Impotência de fazer algo diferente. Vontade de ter feito mais quando não chovia. Languidez característica dos prostrados. Vontade de dormir. Necessidade de cobertas. Falta de aconchego. Solidão.

Raiva. A tempestade e seus ventos avassaladores, que varrem, quebram com violência, derrubam com cólera, destroem veementemente tudo que foi construído com zelo e trabalho, assolando com ódio e tamborilando impetuosamente em trovões e furacões o todo, que agora não mais importa. Deixa um rastro de destruição tão aterrador quanto o inferno de Dante, no pior nível.

Saudade. Uma garoa de longa data, está sempre ali, não chega a molhar, nem a chover, não vai embora nunca. Incomoda. Existe com sol e com céu nublado. Impede pessoas de se arriscarem em tempo aberto. Tira a alegria e a motivação de efetuar alguma prática deleitosa, mas principalmente irrita, pois não vai embora. Não muda.

Perda. É o calor saarístico. Arranha a garganta, seca o corpo de tanto colocar líquidos para fora, nos deixa sem forças de continuar, de seguir adiante, está sempre quente em todos os lados. Tudo é muito cansativo. Muita falta de água. Irritação com o permanente sofrimento do corpo, dos sentidos, da mente. Vontade de desistir da caminhada, faz tudo parecer longe, racha os lábios, a pele, o coração. Desidrata a alma e seca a companhia. Legadeia² um poço de saudade, seco de esperança no retorno.

Medo. Onda marítima colossal em tempo de inverno. Cresce, sobe, cobre e quebra abrupta e inusitadamente. Sua rapidez e sagacidade arrojam-se impedindo qualquer pensar. Ela lambe, molha e abraça, alterando a percepção de todos os sentidos, com o frio nauseante descendo após o choque do contato com a cabeça, pela espinha, fazendo todos os pelos eriçarem-se. Toma pra si todo o ar e o leva embora junto com a maré, deixando porém, a nausea e a consternação perplexante, um gosto ruim na gargante e um corpo trêmulo.


Permeando tudo isso, como linha de costura que deixa o que é essencial intrínsecamente unido, estão as estações do ano, e cada sentimento acaba se identificando mais com uma ou outra. Primavera. Pólen e flores, ouriçando o nariz e excitando o cérebro e o corpo. Época de paixões, romances, namoros; Inverno. Frio que persuasivamente nos convence a ficarmos mais alguns minutos na cama, nos acorrenta a uma zona de conforto quando estamos em algum relacionamento, e que tradicionalmente invoca uma tristeza estranha, motivo pelo qual o inverno é a estação com maior índice de suicídios; Outono. Mais frio que quente, as roupas são confortáveis, não há calor nem suor, tampouco o frio doloroso. Época de semeio, esperança, lepidez, prospecção, planos; Verão. Calor, pouca roupa, suor, libido, carnaval, psicodelia, solteirisse, praia...


¹ Que entretém. Formas Divertidas;
² Deixa de legado;


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 14.04.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa
Escrito por:  @rjzucco

5 comentários:

  1. fazemos parte da natureza, logo a identificação dos sentimentos com os fenômenos é mais do que natural..mesmo pq, seria mto egoísmo nosso acreditar que a própria natureza não poderia expor seus sentimentos através de seus atos..
    :D

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  2. Zucco, adoro o seu blog!!! Você é incrível!!!

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  3. Legaaal!!
    Mas... Quem é Dily?
    Pô, qualé?! Eu sou curioso viu?!?!?!?!

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  4. "Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa...

    Solidão é uma ilha com saudade de barco.

    Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.

    Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

    Emoção é um tango que ainda não foi feito.

    Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.

    Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.

    Desejo é uma boca com sede.

    Paixão é quando apesar da placa “perigo” o desejo vai e entra.

    Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero…Também não. É um desaforo… Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?

    Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina."

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