Parte I
Estávamos jantando
em família,
com objetivo de confraternizar e rever alguns amigos de meu pai,
quando de
repente uma mulher, que estava no meio do salão, sem pudor ou
vergonha algum,
abriu sua blusa e tirou os seios para fora.
O fez como se
fosse a coisa mais
normal e natural do mundo mostrar os seios em público. Primeiro
os expôs,
depois se virou para o carrinho ao lado, descobriu o bebê, o
pegou no colo, o
ajeitou, e só então, depois de uns bons três minutos com tudo a
mostra, colocou
seu filho para mamar em um deles enquanto o outro continuava ao
ar livre.
Posso estar
atrasado, mas até
onde sei as mulheres não podem sair com eles a mostra ou serão
enquadradas em
atentado violento ao pudor. Homem nenhum tira a camisa ou arria
as calças em
ambientes multifamiliares de respeito.
Todo mundo
continuou jantando,
alguns como se nada tivesse acontecido, e outros como eu,
constrangidos.
Se eu tivesse um
filho pré-adolescente,
ou se fosse minha esposa a mostrar os seios para todos,
certamente eu a
repreenderia com veemência. Estamos em um país machista e
conservador, e
independente do que digam, somos todos produtos do mesmo meio, e
ainda que a
mente de alguns seja mais despojada, as leis e as regras sociais
estão aí
justamente para delimitar alguns comportamentos.
Mesmo que digam
que é um ato
lindo, que é o amor de mãe alimentando um filho faminto, que não
há como ver
maldade nesse tipo de gesto, explique isso para crianças com
hormônios
explodindo e que nunca viram um seio ao vivo, ou para qualquer
homem tarado ou
mesmo indiscreto.
Nada justifica
tamanha exposição.
Nenhum argumento convence de que a mãe não poderia
tranquilamente sair do meio
de todo mundo, ir à copa, ao banheiro, ao carro, algum canto
qualquer, cobrir o
nenê e os seios com algum paninho, e ser discreta.
Se eu fosse mulher
e mostrasse os
seios para todo mundo, certamente ficaria no mínimo com uma
sensação de libido
aumentada, pois não há como expor uma parte de seu corpo
relacionada por todos
os homens a sexo e não sentir algum tipo de sensação que remeta
a isso.
Para mim, embora
muitas mães
tenham me dito o contrário, é necessário uma boa dose de
depravação para que
tamanha exposição seja consumada. É necessário um rompimento
forte com os
valores morais e uma dose cavalar de coragem.
E depois essas
mesmas mães tem a
cara de pau de reclamar da pornografia na televisão e da
exposição
desnecessária das mulheres que fazem de tudo um muito para
aparecer.
Fácil falar dos
outros, difícil é
mudar nosso próprio comportamento.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 14.12.2013
Editado/corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
Parte II
O último texto que escrevi foi,
indubitavelmente, o mais
polêmico. Mas não exatamente pelo que escrevi, e sim pela
incompetência das
pessoas (algumas) em interpretar.
O texto falava sobre amamentar em público e
o quão eu sou contra
a exposição do seio. No entanto as pessoas resolveram
interpretar como se eu
fosse contra mães amamentarem ou o ato da amamentação.
Chegaram a afirmar que eu
queria ver crianças chorando de fome. As pessoas simplesmente
ignoraram a parte
onde eu falava para amamentarem colocando um paninho na
frente. Honestamente
não entendo essa necessidade de exposição do seio. Sou a favor
de tudo
relacionado à amamentação, apenas discordo da exposição do
seio materno em
público. Desenhando para que fique claro: TODO O SEIO.
Não estou aqui para me retratar. Muito pelo
contrário. Estou
aqui para ratificar cada palavra por mim escrita e dizer que
sou responsável
pelo que escrevo. Aproveito também para dizer que aceito a
opinião das pessoas
que reclamaram, embora não concorde.
Especialmente gostaria de agradecer aos
elogios, que foram em
torno de quatro vezes em maior quantidade do que as críticas.
E como ponto principal, o que realmente me
entristeceu e
incomodou, foi ver gente hipócrita e demagoga, que se diz
politizada e culta,
fomentando atitudes de baixo calão simplesmente por alguém
pensar diferente.
Honestamente prefiro ser um moralista caxias
na visão dos
outros a sair ofendendo todo mundo sem qualquer noção de
civilidade, fomentando
agressão física por alguém não pensar como eu (linchar em
praça pública me fez
até rir).
Sem ser irônico, eu ri. De desprezo e
tristeza. Pessoas
ofenderem-me pessoalmente por pensar diferente e ainda terem o
desplante de me
chamar de homem das cavernas? Realmente não tenho palavras.
Muitos advogados vieram me procurar
sugerindo que eu
acionasse essas pessoas, que eu teria direito e que ganharia
muito. Mas então
eu pergunto: será que vale a pena dar ouvidos a quem te ofende
pessoalmente
sabendo que essas pessoas não têm condições sequer de
interpretar um texto
coerentemente, ou de vir falar comigo pessoalmente? Ou pior,
não serem capazes
de aceitar a opinião alheia sem que ela seja exatamente igual
a delas? É mais
ou menos, ou tu gosta do azul também, ou quebro teu nariz.
Gente que pensa tão pequeno a ponto de não
conseguir aceitar
a democracia, o direito de opinião e a diversidade de ideias e
que não sabe
discutir um assunto sem ofender seus interlocutores, não
merece minha atenção.
Pensem bem, foi muito além de apenas discordarem de minhas
ideias, manifestaram
publicamente que eu não PODERIA tê-las. Que minha maneira de
pensar estava
errada e a deles certa. Que apenas por pensar divergentemente,
deveria ser
calado para sempre, apedrejado, preso, isolado, excluído.
Pasmem, pessoas que pregam da boca para fora
todos os dias
exatamente o contrário. Mas na hora de praticarem um pouco de
respeito e
civilidade...
Nessa hora lembro saudosamente de Eduardo
Matzembacker e
Francisco Medeiros que, embora discordem completamente das
minhas opiniões,
sempre as contrapuseram com muita categoria, fazendo-me em
muitos casos,
repensar e mudar de ideia. Isso é o que acrescenta e esse tipo
de gente eu
respeito, mesmo que não concorde com tudo que digam.
Para encerrar cito Voltaire: “Posso
discordar completamente
daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de
dizeres.” Apenas
acrescento: desde que não sejam palavrões e frases de baixo
calão.
Alguns comentários que eu achei pertinente mencionar:
Danilo Branco Rodrigo Zucco,
li tua coluna e sinceramente não entendi porque todo esse alvoroço.
Fiquei triste em primeiro lugar, pois apesar de estarmos toda hora
dizendo que estamos no século vinte e um, algumas pessoas ainda estão no
período neanderthal (o primeiro a ter ares estéticos: olha a ironia).
Cara, fiquei extremamente temeroso, pois se tu com essa coluna light
praticamente foi linchado em praça pública (vi uma mãe que propôs isso e
fiquei imaginando o que o filho dela será quando tiver 18 anos) o que
sobra para quem realmente pensa diferente. Sim, pois tuas ideias não são
exclusivas. Conversei com alguns amigos e amigas que estão fora desse
"alvoroço" e ouve unanimidade: compartilham da tua opinião. Eu
principalmente. Antes de minha filha nascer, eu e minha mulher
combinamos que ela nunca iria amamentar em público. Justamente por ser
um momento íntimo entre mãe e filho, ninguém mais precisa compartilhar
desse momento. E quando alguma mãe que eu nem conheço, o faz na minha
frente, também fico constrangido. Mas tudo bem, pelo que vi no clamor
das pessoas que querem te linchar, nós não temos mais o direito ao
constrangimento. Vivemos numa sociedade onde os incomodados que se
retirem e ponto final. Mas enfim, não vejo isso como o mais importante
nessa história toda. Como comecei dizendo, o que me assusta é saber que a
primeira pessoa a pular fora das ideias sociais enlatadas é sempre a
primeira a ser apedrejada. E apedrejada por quem fabricou a lata,
lógico. Uma ou outra pessoa conseguiu manter a coerência e te responder a
altura. Mas também, o que esperar de um povo que escreve "serto"? De um
povo que se incomoda com uma opinião tão trivial mas deixa seus filhos
assistirem BBB e dançarem as músicas clássicas da Anita e do Naldo? É,
meu amigo. De repente a saída é a mesma dos grandes meios de comunicação
(leia-se rede globo): vestir-se com roupas de marca e aprimorar nosso
cinismo. Senão, fogueira pra ti, Zucco!!! E em praça pública, pra que
todos vejam o que dá pensar (nem tão) diferente (assim).
Eduardo Matzembacher Frizzo O
principal problema do seu texto é o modo como tratou o assunto em
pauta. Realmente vivemos em uma época de superexposição do corpo - sendo
que, no meu entender, esse é o pano de fundo do seu artigo, o que
concluo por conta do parágrafo final. Mas abordar
essa temática a partir de uma mãe que amamenta seu filho em público,
consiste em um chamariz para discórdias. Por outro lado, sustentar uma
posição se utilizando das palavras "machista" e "conservadora",
igualmente é algo que inevitavelmente cria "feridas sociais", digamos
assim. Creio, portanto, que essas são as razões, racionalmente falando,
dessa discussão toda em torno das suas palavras. De minha parte, tenho a
dizer que há alguns anos já tive problemas com artigos que publiquei
nos jornais de Santo Ângelo. Certo texto de minha autoria, inclusive,
transformou-se em uma corrente de e-mails que visava não apenas atacar
minha posição, mas denegrir minha imagem. Em outra oportunidade, em
época pré-eleitoral, um texto meu foi censurado pelo editor de certo
jornal. A diferença é que muito raramente trato de temáticas como essas
que você aborda, Rodrigo Zucco.
Minha pauta, pelo contrário, é voltada eminentemente para questões
políticas e sociais que atingem o bem coletivo, como falo de forma
exaustiva. Consequentemente, jamais sofri ataques como esses que
recaíram sobre você. Devo dizer, por fim, que discordo do seu
posicionamento. Não vejo nesgas libidinosas no fato de uma mãe amamentar
seu filho em público. Vejo, outrossim, algo plenamente normal, afeito à
nossa natureza animal. Cobrir ou não cobrir os seios no ato da
amamentação, por exemplo, diz respeito a uma atitude da ordem moral.
Como a moral, conceitualmente, pertence ao foro íntimo dos indivíduos,
podemos ou não concordar com esse ato, algo que é plenamente
compreensível. Expor posicionamentos morais de forma generalista ("a
moça X é vagabunda porque usa roupas muito curtas", "o sujeito Y é
esquerdista porque discorda do Julgamento do Mensalão", etc.) é um
grande perigo, ao qual todo e qualquer articulista está submetido. Dessa
forma, não vejo nada demais nessa repercussão do seu texto. Seu erro
talvez tenha sido essa postagem, com todo o respeito. Se fosse comigo,
eu simplesmente deixaria estar, como fiz nas ocasiões que citei acima.
Mas já que a postagem está aí, não se pode voltar atrás. Sem mais mas
sempre com muito na garganta, Eduardo Matzembacher Frizzo. Um abraço! P.S.: Agradeço pela gentil menção!
Carol Ferrary Rodrigo Zucco,
Vi muita coerência no texto. O seio não é uma parte do corpo qualquer,
como uma mão ou o nariz, é uma parte íntima. Acho que a mãe, quando
amamenta, tem sim que preservar ao máximo a exposição desnecessária do
seio, amamentar em público deveria
ser feito apenas em caso de última necessidade. Vou dar um exemplo, não
com as mesmas proporções, mas apenas para ilustrar minha linha de
raciocínio... As pessoas, não deveriam nunca urinar em local público,
mas em alguns casos não têm outra alternativa, e qdo isso ocorre, os
homens costumam se esconder atrás de alguma coisa, ou ficam virados para
as paredes, assim como as mulheres se abaixam em algum canto, ninguém
simplesmente baixa a calça e faz xixi no meio de outras pessoa.
É óbvio que se o bebê está com fome, e a mãe está em local público, ela vai amamentar e fode-se.
O mundo mudou muito em relação ao "pudor", hoje as novelas em horários que crianças estão vendo TV mostram cenas de nudez e sexo, isso sem falar em cenas de crimes com bastante violência. Essas crianças são os adultos do futuro e cada vez mais o corpo será banalizado.
Sou da opinião que resguardar um pouco a intimidade é uma questão de respeito. Considero o seio uma parte íntima do meu corpo, eu tentaria ao máximo preservar em respeito ao meu marido e ao meu filho.
É óbvio que se o bebê está com fome, e a mãe está em local público, ela vai amamentar e fode-se.
O mundo mudou muito em relação ao "pudor", hoje as novelas em horários que crianças estão vendo TV mostram cenas de nudez e sexo, isso sem falar em cenas de crimes com bastante violência. Essas crianças são os adultos do futuro e cada vez mais o corpo será banalizado.
Sou da opinião que resguardar um pouco a intimidade é uma questão de respeito. Considero o seio uma parte íntima do meu corpo, eu tentaria ao máximo preservar em respeito ao meu marido e ao meu filho.