Final de semana desses comentei sobre um utensílio doméstico e
minha
falta de experiência para adquiri-lo.
Entre os comentários, um estimado amigo que muito respeito e prezo
aconselhou-me a encontrar companhia, pois a solteirice não faz
bem.
Pensei um momento a respeito e respondi que adotaria uma
guaipequinha.
Brincadeiras à parte, aquilo me deixou pensando muito. Avaliei
algumas decisões e seus respectivos desmembramentos.
Não é fácil empreender, ao contrário do que muita gente pensa.
Não é apenas abrir um ponto e sair vendendo. Há muitas escolhas a
se efetuar. Há que se abrir mão de muita coisa.
Paz? Isso não pertence por muito tempo a quem resolve enveredar
por
esse caminho. Há muita preocupação, muito trabalho, pouco sono,
pouco descanso, muitos problemas e pouco dinheiro. Por muito,
muito
tempo.
Quem não adoece antes, ou quebra, ou vinga, ou segue cambaleando
até
adoecer.
É definitivamente agitado. Muita ação, muitas decisões, muitas
opções de caminhos, e consequentemente muitos finais possíveis.
É necessário entender de tudo um pouco. Economia, política,
geopolítica, finanças, estratégias de mercado, vendas,
planejamento, técnicas de vendas, estratégico, técnicas de
negociação, neurolinguística, comportamento humano, interação
social, pessoal e virtual, network, marketing, coaching,
mentoring,
RH, etc.
Nunca pode parar de se atualizar, é necessário estar
permanentemente lendo, aprendendo e fazendo cursos. Como se para
viver
estivéssemos ligados por aparelhos, e eles fossem a informação
quente.
Conversei com alguns amigos a respeito e eles me deram um veredito
preocupante e entristecedor, mas que deixa nós,
empreendedores/sonhadores, orgulhosos.
Não há conversa comum conosco, via de regra. Misturamos política
com banalidade. Música com comida e etc.
Se alguém está afim desses seres estranhos que empreendem como
profissão, ou "persipíca", ou fica para trás. Tem q ser
perspicaz!
É preciso estar ligado no 330, o que é trivial não importa.
Leitura
fácil é morna e aborrece. Os sinais falam mais do que o explícito.
Clareza é para fracos, aprenda a ler as entrelinhas.
O paraíso passa antes pelo inferno e o inferno será um paraíso.
Tão quente quanto possa dentro de nuvens, de vapor.
Navegar em aguas calmas não é desse ramo, e quem gosta, não aporta
nessa praia pois ninguém é totalmente lúcido ou ajuizado.
Sabe aquela história de incansável? Pois é... Multiplica e eleva
na
geométrica.
Atitude até demais. Enquanto muita gente teoriza, essa raça faz, e
faz mesmo. Não pode ficar filosofando sobre o ovo ou a gal... O
cheiro está bom, quero provar esse coraçãozinho.
Viver o presente trazendo aprendizados seus e de mais uma tropa do
mesmo time, sem apego ao passado. Vislumbrando o futuro, sem
deixar de
estar aqui em cada precioso momento.
Românticos apaixonados, descrentes no amor, e esperançosos em
encontrar sua alma gêmea.
Romantismo onipresente? Nada disso, isso é coisa particular
demais.
Complexidade sim.
Querer o mundo enquanto come um sanduíche que talvez esteja
vencido e
completa com pizza fria e coca sem gás.
Efemeridade e superficialidade? Jogo rápido? Dificilmente
encontrará
pouso nesse navio.
Não é fácil se envolver com quem tem por ideal de vida seguir
alguns valores a qualquer custo não hesitando sequer
questioná-los.
Por entender a importância das relações, prezar por amizades leais
é mantra. Família é base. Coração sempre intenso.
Confusão e borboletas. A cabeça de qualquer um fica atropelada,
muito ritmo.
Quem quer paz e normalidade, foge para as montanhas. Tem gente que
depois de passar um tempo junto fica meses ou anos desacelerando.
É necessário culhões; curtir, senão se violenta.
Ativismo social? Meio regra.
Muita energia para uma turma só, enlouquecem várias. Provocam quem
chega perto só para testar a capacidade. Lugar comum é repelido
com
refluxo gástrico.
Depois de (con)viver com alguém assim, jamais cura-se totalmente.
E
nunca mais os relacionamento, seus ou de outros, serão iguais. A
ponto de sentir inveja por serem todos exatamente iguais, mornos e
tediosos.
Suicídio de uma vida passada, e entender que finalmente nasceu pra
vida.
É adeus aos dias de paz. A normalidade. Ao simplório. É a
complexidade do detalhe simples. É a paz inquietante do vivo.
Nem todos os empresários são tão elétricos, empolgados ou
intensos. Nem todos fazem dinheiro. Nem todos sabem o que estão
fazendo no mundo. Muitos sequer entendem o que significa
empreender.
Empresários de verdade, que sabem, pensam igual. Estão
sintonizados
e entendem o que falo.
Muita gente que não quer empreender também entende.
Pensei em tudo isso e concluí que a solidão se justifica. Os
loucos
são raros. Admiramos pessoas que curtem paz, e essas não curtem
quem
vive em caos.
É tudo muito bom e legal, mas tem um preço caro demais a se pagar,
sobretudo para quem não vive essa vida.
Pensei em rodriga para o nome da guaipeca, o que lhe parece?
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 14.05.2016
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