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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Você é honesto? (parte I)


Fazendo um curso sobre negociações onde conversamos bastante sobre a política do ganha-ganha, chegamos no impasse da ética.
Honestamente, a ética é uma qualidade quase extinta no mundo hoje em dia. As pessoas simplesmente não se importam com os outros, querem sempre tirar vantagem sobre alguém.
Cito aqui três exemplos bem claros e simples. Começando pelo mais básico até o mais chocante.
Uma das dinâmicas do curso era negociar determinado produto um a um, de forma a concluir o negócio e ambos ganharem. Depois de conclusa a compra, ambos conversavam sobre as condições que poderiam ter flexibilizado. E o mais comum em todos os casos era as pessoas arrependerem-se por não ter espremido mais, não ter tirado mais vantagens ou auferido mais lucro. Mas se a negociação ocorreu, e foi bom para ambos os lados, então por que eu deveria ter espremido mais? Por que preciso ganhar mais e tirar mais vantagens? Por que não posso ficar satisfeito com o que foi atingido, sendo que estava dentro das expectativas?
Outra dinâmica falava sobre a negociação e a livre concorrência, onde não há qualquer tipo de conversa ou combinação prévia entre os participantes e cada um precisa escolher uma cor. São 4 grupos/empresas. Se 3 empresas escolherem azul (A) e uma escolher vermelho (V), a que tirou vermelho ganha 30 pontos e as que escolheram azul perdem 10 cada. Se 2 empresas escolherem A e 2 escolherem V, as que tiraram V ganham 20 pontos e as que escolheram A perdem 20 cada. Se 1 empresa escolher A e 3 escolherem V, as que tiraram V ganham 10 pontos e a que escolheu A perdem 30 cada. Se todas escolherem A, todos ganham 10. Se todos escolherem V, todos perdem 10.
O que se percebe nesse caso é que a única possibilidade onde todos ganham é todos apostarem A. Percebe-se também que a chance de ganhar é muito maior apostando no V, pois qualquer combinação que não for 4V, os V ganham e mesmo que não ganhem, ao menos todos perdem a mesma coisa.
Pensando em ganhar e esquecendo a política ganha-ganha, quase todos apostaram no vermelho.
Não quero ser hipócrita ou demagogo, mas o único grupo que apostou do início ao fim no azul foi o meu. Daí os colegas disseram: “Mas você perdeu! Todos apostaram no vermelho! Sua empresa quebrou e você foi o responsável”. Concordo, está certo. Até pode ser mesmo, mas tenho outra perspectiva para situação. Digamos que o V significasse roubar. Você roubaria porque todas as outras estão roubando? Justifica roubar para manter a empresa operante? Ou prefere quebrar? E se fosse ao invés de roubo, assassinato ou estupro? Você estupraria junto com as outras 3 empresas para se manter vivo e operante? Mataria para não falir?
Repare que não há uma resposta certa ou errada para tais questionamentos, embora eticamente falando a única escolha válida é fazer o que todos sabem que é certo, escolher o A. Mesmo que os outros escolham o V, o A é o que todo mundo ganha. E todos sabem disso.
O correto é apostar na política onde todos ganhem, mesmo que os outros não escolham A, a sua parte está sendo feita.
Um pai tinha um filho pequeno e o amava. Amava muito e ele sabia que era o exemplo para seu filho. Ele era o herói e o grande cara. Sua função era elevar e baixar uma ponte. Ele elevava a ponte para passar os navios e baixava para passar um trem cujos trilhos ficavam na ponte. Elevava, passava o navio, baixava e passava o trem. Um dia elevou e seu filho caiu, se ele baixasse a ponte, mataria seu amado filho, mas salvaria todas as pessoas no trem, em torno de 300. Se não baixasse, salvaria seu filho, mas mataria 300 pessoas. O que é certo?
No fundo todos entendemos que o que deveria ser feito é salvar as 300 pessoas, as mães grávidas que estavam lá, os bandidos que mereciam uma segunda chance, as crianças, os avós. E se neste trem estivesse viajando o cientista que descobriria a cura do câncer e salvaria a humanidade?
Se você fosse essa pessoa, confesse, salvaria seu filho.
Isso significa que você é corrupto, pois pensaria em você e em seu filho e não nas 300 pessoas e dane-se o mundo.
Quando fala dos políticos corruptos, eles são monstros malvados. Se você estivesse lá não se corromperia. Será? Acabou de provar que na primeira oportunidade não hesitaria em pensar em si frente a outras pessoas.
Hipocrisia e demagogia.
Faça a sua parte antes de reclamar e falar mal dos outros.
O certo é o certo mesmo que ninguém faça e o errado é errado mesmo que todos façam. Nosso grupo continuou colocando o A mesmo que ninguém mais estivesse fazendo, porque era o certo. Os outros grupos continuaram colocando o V mesmo sabendo que era o errado, pois pensaram em ganhar, pensaram em si. E acreditaram que para ganhar alguém teria que perder.
Nós consideramos que todos deveriam ganhar.
Reflita. Você ainda se acha honesto e que os políticos láaaaa longe é que são os corruptos?

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 11.07.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br

terça-feira, 21 de julho de 2015

Grupos de extermínio



Assistindo ao jornal da manhã, que como todos os demais reserva boa parte de seu tempo para falar de sensacionalismo, fui acometido por um recorrente sentimento de revolta contra a torta justiça brasileira.
É sabido por toda a nação que não temos mais espaço em presídios e/ou cadeias para tanto bandido. Também é de conhecimento comum que essa marginalia toda quando é pega, nunca aprende ou se redime. Quase na totalidade dos casos voltam a reincidir com crimes piores, aprendidos na escola da prisão. E com os melhores e mais graduados professores.
Muitos sequer dão-se ao trabalho de esconder ou omitir que quando forem soltos, tornarão a matar. E a justiça? E a polícia?
Sei que a maioria dos policiais é honesta, está na profissão por acreditar que pode proteger o povo e limpar as ruas dessa corja. Mas sei também que eles sentem-se cada vez mais de mãos atadas.
Eles sabem que os meliantes serão libertos em pouco tempo, e que podem acabar sofrendo rechaças, inclusive familiares.
Todos temos consciência, lá no fundo, que essas pessoas não tem correção e que independente da quantidade  de oportunidade que for oferecida, valores e caráter não se mudam.
A sociedade, formada também por policiais tanto da ativa quanto da reserva, entendendo essa triste realidade e inconformada com a falta de justiça e com a impunidade, resolveu agir por conta própria.
Foi preso recentemente um grupo de extermínio. A imprensa noticiou como se eles fossem os bandidos. A polícia federal estava atrás deles e conseguiu pegá-los. (PF que por sinal está entrando para história no que se refere a prisões de políticos, corruptos e etc. Nunca vi o Brasil prender tanto)
Então eu pergunto: Por que não deixaram esse pessoal continuar a limpeza? Esse bando de assassino e estuprador continuará parasitando a sociedade e eles estão fazendo nada mais do que uma higiene social a qual a polícia não pode.
Isso significa que eles estão fazendo um trabalho comunitário na verdade.
Ironias à parte, o que revolta a nós, cidadãos, é que para pender esses caras há lugar na cadeia, há contingente policial federal e a justiça funciona. E para proteção do cidadão que é assaltado, violentado e humilhado nunca há contingente suficiente. Para prender políticos corruptos não há polícia federal nem nada.
Então quando uma parcela da população resolve fazer justiça/vingança com as próprias mãos, considero completamente compreensível.
E digo mais, essas pessoas que estão tentando fazer o papel de batmans modernos – texto que diga-se de passagem também já escrevi – não estão erradas sob sua perspectiva. Mesmo que a vida seja o bem maior defendido constitucionalmente, a coletividade e o bem comum se sobrepõe.
Matar marginal, assaltante, assassino, estuprador e tirá-los do convívio social é visto por pessoas que costumam ser açoitadas como uma higienização social.
Mesmo que seja completamente ilegal esse tipo de milícia, eu gostaria que grupos assim existissem onde moro.
Em tempo. Entendo que o dever de punição justamente foi transferida ao estado para que não houvessem mais vinganças pessoais, eis que estas são infinitas. Entendo também que a lei de talião não cabe mais na sociedade atual e que a lei e a justiça estão aí para isso. Sei que com cidadãos mantando outros cidadãos, ainda que estes últimos sejam meliantes, temos a equiparação dos dois grupos: matam por motivação diversa, mas tiram a vida de outrem sem que lhe seja dado este direito e que bem nenhum se sobrepõe à vida. Ocorre que na pratica a teoria não funciona e o povo está buscando alternativas.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 04.07.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br