Esses dias enquanto passava da sala à cozinha ouvi uma propaganda na televisão que posicionava-se contra o trabalho infantil.
Curioso
que não ouço campanhas publicitárias contra os mini atores das novelas
das televisões brasileiras. Também não há manifestações quanto aos
comunicadores de programas de auditório ou de pequenos pastores de
grandes igrejas.
Então o quê? Trabalho infantil é permitido
apenas para quem não precisa de dinheiro? Aqueles que passam necessidade
em casa, que não tem dinheiro para comprar comida, que passam frio,
pois nem roupa podem adquirir, também não podem trabalhar?
E a ajuda extra na renda familiar? E as crianças que sequer conseguem ir ao colégio porque falta de tudo um muito em casa?
Só eu penso que o dinheiro que essas crianças trazem para casa é fundamental para manter a saúde desse seio como um todo?
O
que está errado não é o trabalho. O errado é trabalhar e não aproveitar
esta curta fase. Deveria existir, então, uma lei que proíba crianças de
trabalharem em tempo integral, que ocupe todo o tempo que a impeça de
brincar e estudar, por ser fundamental para seu desenvolvimento enquanto
pessoas.
Além do quê, esse trabalho não só encaminhará esses
infantes a algum tipo de profissionalização como ampliará seu senso
político e de relacionamento interpessoal. Fará as crianças entenderem
como o mundo funciona, como a máquina gira, obrigará a conviverem em
sociedade e construir network.
Criança pode estudar, trabalhar
e ainda brincar. Filhos de pais ricos estudam, fazem natação, ballet,
tênis, judô, caratê, futebol e ainda arranjam tempo para brincarem com
seus videogames, assistirem desenhos e aprontar artes com os amigos,
além das aulas. Por que não incluir trabalho nisso? Os fará aprender
muito também e principalmente angariará um grande ganho à renda de todos
e aumentará a qualidade de vida.
Segundo o estatuto da
criança e do adolescente (ECA), é proibido qualquer trabalho a menores
de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Sendo que o
mesmo considera aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada
segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.
Alguém pode me dizer onde grande quantidade de gente desqualificada e sem maturidade consegue emprego desse tipo?
Ah
mas o trabalho educativo é diferente. Trabalho educativo? No ECA diz
que entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as
exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do
educando prevalecem sobre o aspecto produtivo. Traduzindo, produz menos e
aprende mais. Isso é sala de aula e não trabalho. Por que eu enquanto
empresa vou custear alguém que dá menos retorno que outro?
Até
na remuneração há pormenores. “A remuneração que o adolescente recebe
pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu
trabalho não desfigura o caráter educativo.” Ou seja, ao menos isso,
pode receber para aprender.
Tudo bem, eu quero ajudar a
criança a dar uma qualidade de vida melhor para todos de sua casa. Dou
oportunidade ao “menor aprendiz”, pago para ele... aprender? Então minha
empresa agora acaba de mudar de status? De empresa para instituição de
caridade sem fins lucrativos?
Sei da realidade das crianças
exploradas pelos pais e não estou me referindo a esse nicho. Preocupo-me
em separar esse joio de todo o trigo que realmente precisa do trabalho e
pode aproveitá-lo produtivamente.
Sou a favor do trabalho
infantil! Acredito que beneficia a criança de muitas formas. Sou contra
hipocrisia e demagogia. Antes uma criança trabalhando e aprendendo do
que passando necessidade e apanhando em casa.
Trabalho infantil é uma coisa, trabalho escravo é outra bem diferente!
Quem
não tem condições de dar manutenção ao básico, certamente também não
terá condições de uma infância digna. Então que ao menos busque melhor
qualidade de vida.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 10.08.2013
Editado/corrigido por Patrick Heinz
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