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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Leitura na Balada

Meus amigos perguntam-me por que saio para baladas se não é sempre que bebo, então não é para me emborrachar. Também não pego a mulherada e não danço, mas estou sempre nas bocas dos eventos. Se fosse para ouvir música, iria sempre ao mesmo lugar, ou ao menos nos lugares que toquem o mesmo estilo, e não é o que faço.
Mas então por que diabos eu saio?
Ocorre que o melhor lugar para se analisar e ler as pessoas é na noite. Por uma série de motivos que discorrerei agora. Primeiro avalia-se o local e daí pode-se começar a mapear as pessoas, pode-se até perceber que está na festa errada, que foi aquele local por insistência de alguém ou para conhecê-lo.
Segundo, a roupa da pessoa. A forma como alguém se veste diz muito sobre ela. A combinação de cabelo, maquiagem, roupa, decotes, calçado, calça, meias, unhas, etc. Depois analisamos a postura, mas sempre lembrando de agregar a impressão obtida nas etapas anteriores. Verifique como a pessoa se porta, como fala, como anda, age, bebe, sorri, e, nesse ponto, já pode começar a tirar algumas conclusões. Nesse momento já sabe se a pessoa saiu para dançar, se está bem humorada, como é sua autoestima, se está afim de sexo, em quem está de olho, se é comprometida, se é vaidosa.
Com homens, basta olhar o tórax. Peito estufado denuncia prospecção, necessariamente. Mulheres que requebram quando andam, também. Obviamente que nem todo homem que estufa o peito está à caça, assim como nem toda mulher que requebra. Mas some-se isso ao restante já avaliado e leve em consideração o fator percepção.
Tenho certeza de que já aconteceu com você o fato de estar olhando para alguém e essa pessoa, como se sentisse o olhar, virasse-se para você com uma cara de “quem está me olhando?” É muito difícil as pessoas não sentirem que estão sendo observadas. Jung fala sobre o inconsciente coletivo interligado por uma frequência, e é aqui que apoio esta teoria.
Sentimos quando estamos sendo observados, mesmo que seja à distância e mesmo que estejam as nossas costas. É nesse momento que normalmente as mulheres começam a passar a mão no cabelo, caso estejam, obviamente, interessadas em quem as está olhando ou caso queiram massagear o ego.
É como se o inconsciente falasse, meu Deus, estão me olhando, o cabelo está bem? Estou bonita? E automaticamente a mulher passa a mão. Esse é um ótimo termômetro. Frequentemente vejo pessoas que estão entretidamente conversando e de súbito começam a procurar algo ao seu redor sem saber o que é. A procura só cessa quando acaba dando de encontro com algum olhar, ou quando a sensação some, pois a pessoa parou de olhar. Acontece e com frequência de quem está recebendo o olhar, virar-se diretamente para quem a está velando. Ou a pessoa que lança o olhar ser surpreendida inopinadamente.
Além disso há a segurança e os olhares. É fascinante ler que um cara vai abordar uma garota antes mesmo de ele tomar coragem para fazê-lo e mais ainda, de saber o resultado antes que ele sequer saia do lugar. Os olhares dos dois, segurança dele e a insegurança dela, pés dela apontados para ele, se apenas um deles, ou só o de trás, ombros alinhados com os dele, sorrisos sinceros ou forçados, tudo denuncia.
Em uma festa que fiz com um amigo, tive a oportunidade de avaliar esse processo desde o inicio e esse camarada tinha certeza de que o casal não acabaria junto. Mas eu teimei e falei que eles já até tinham se beijado, só ainda não sabiam. Ela estava com a postura espelho, olhos nos olhos, sem fuga. Ombros alinhados, pés apontados para ele, ambos. E ele estava firme, imponente, seguro, bloqueando o caminho dela como quem diz que por ali ela não passaria, que o único caminho era ele. Era como se ele tivesse certeza do final e só estava brincando até chegar o momento que ele decidisse. Dito e feito, ele resolveu e atacou certeira e satisfatoriamente.
O fascinante de tudo isso, é que ao ler todos os sinais, pode-se prever os acontecimentos, pode-se aprender sobre comportamento humano, e faz nos sentirmos como senhores do tempo, pois sabemos antes de tudo o que ocorrerá. Após um período de treino, chega a ser injusto com os humanos enxergá-los com toda a transparência que a leitura permite.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 03.03.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Escrito por:  @rjzucco

3 comentários:

  1. ....muito legal e sensitivo. Difícil para algumas pessoas e fácil para outras. Acredito q vc se encaixa no fácil..rsrsr! Parabéns!

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  2. Muito legal Rodrigo!!!! É a mais pura realidade... O duro é quando a gente percebe que foi lida desde o início da festa... e nem sempre sabe a impressão que passou.... Beijo grande!

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