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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Para abraçar?!

Tem uma menininha chamada Raissa que possui uma doença raríssima e não pode abraçar. Imagino como deve estar sendo ruim para a família dela. Muito legal ver a movimentação das pessoas para angariar fundos para o tratamento.
São empresas, palestrantes, universidades, entidades de classe e mais um monte de gente trabalhando em prol das arrecadações de fundos para custear o tratamento - que diga-se de passagem não é garantido, é experimental - para que a criança consiga abraçar as pessoas.
Honestamente acho o máximo essa união e movimentação das pessoas que abraçaram a causa e a dor da situação, mas... pasmem! A quantia de dinheiro levantada para tratar apenas uma criança, fora do Brasil, e ainda sem garantias de sucesso é absurda. Entendo até como ofensivo.
Não vejo a comunidade reunida para falar sobre os votos da última eleição e como cobrar seus representantes por um sistema de saúde melhor. Também não os vejo articulando por maior investimento em educação. Ou pior, não vejo todo esse furor e boa vontade para angariar fundos para comprar comida a quem morre de fome todos os dias.
Será que ninguém parou para pensar a respeito disso? Que esse dinheiro todo poderia ser melhor direcionado de forma a abranger mais pessoas, ajudar mais gente e resolver mais problemas de uma vez só ao invés de ficar tentando salvar uma causa semi perdida?
Eu sei que faz parte dos humanos apaixonarem-se por uma boa causa perdida, mas então que seja com algo que possa “abraçar” muito mais gente e que tenha resultado garantido.
Não faz sentido direcionar tanto dinheiro para alguém que pode não sobreviver, sendo que muito mais pessoas poderiam se beneficiar desses recursos. E veja, estou sendo prático, afinal de contas nenhuma decisão importante deve ser tomada com emoção.
Não, eu não sou um monstro desalmado e sem coração. Eu me preocupo com a Raíssa, sou empático com sua família, tento me colocar no lugar e entender a situação, mas alguém precisa fazer o papel de enxergar todo o cenário e mostrar as pessoas que talvez não estejam direcionando seus esforços da melhor maneira.
É cruel com a menina querer abandoná-la? Sim e não. Sim se formos egoístas e pensarmos só nela, mas não se formos práticos e pensarmos em todas as outras pessoas que, assim como ela, precisam muito ser assistidas e não tem a menor condição.
Em alguns países, certas doenças terminais (como câncer) não são assistidas como aqui, eles subsidiam acompanhamento psicológico para o enfermo e seus familiares a fim de não ocupar a máquina pública com causas perdidas e abreviar o sofrimento do paciente e dos seus, proporcionando assim que outras pessoas com condições de melhora possam receber atendimento.
Reforço. Não sou contra a campanha dela. Meu intuito aqui é apenas trazer a discussão uma outra visão a respeito de algo que, pelo que tenho percebido – ou melhor, não tenho percebido – as pessoas não se atentaram.
Na prática seria mais ou menos como se o governo disponibilizasse atendimento apenas para pessoas com determinada doença por não ter dinheiro para atender a todos. Onde fica a justiça com os demais?
Certamente virão alguns argumentar que os outros poderiam ter feito o mesmo movimento e tentado angariar fundos também. E de fato poderiam! Assim como as pessoas que recebem bolsa e recusam empregos poderiam trabalhar ao invés de ficar em casa. Poderiam! Mas a vida não funciona tão logicamente assim, e por isso existem esses movimentos sociais.
Eu os entendo como uma forma de manifestação ativa contra a omissão do Estado em relação a coisas que deveriam ser por ele providas e não são.
Então entendo que cabe a nós, enquanto sociedade, cobrar nossos representantes, eleitos ou natos no meio em que vivemos, uma política e raciocínio menos específico e mais generalista. Só assim conseguiremos alinhar essa torta e podre matemática financeira que existe entre pessoas, políticos e Estado.
Boa sorte Raíssa. E se dependesse de mim, esse dinheiro ia para o lar da menina e do menino, na pior das hipóteses, e na melhor em projetos de melhoria na educação.
Parabéns aos pais da menina que conseguiram articular e mover mundos e fundos para ajuda-la. Eles são exemplo do que força de vontade pode fazer.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 29.11.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br

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