Li um texto fabuloso de uma garota da geração Facebook explicando
o porquê de seus relacionamentos e tentando justificar sua
volubilidade.
Tudo faz sentido em minha cabeça, talvez por estar na geração
intermediária entre a nova e a antiga e ter pego um pouco de cada.
Ela alega que sua geração não é preguiçosa, que não querem
conquistar tudo sem trabalhar por isso, que não se acham
especiais, que sabem se relacionar com pessoas, que estão
quebrando protocolos sociais, que estão de saco cheio de relações
tóxicas, não querem preservar relações familiares ou conjugais que
não sejam totalmente satisfatórias, que tem laços intensos com
seus amigos virtuais, que dedicam o pouco tempo que possuem
fazendo o que amam, que relacionamentos não precisam durar e que
participam ativamente de projetos sociais virtuais para causas
lindas e nobres
A geração nova é sim preguiçosa, independente do que digam. Quando
alguém faz só o que gosta, está vivendo em seu mundinho
imaginário, não em sociedade. Viver em sociedade significa ceder,
flexibilizar, fazer o que precisa ser feito eventualmente mesmo
que não goste. Se todo mundo fizesse apenas o que gosta então
teríamos escassez de quase tudo no que se refere a qualificação
profissional.
Preguiçosa porque só estuda o que quer, só faz o que gosta e
quando gosta, só trabalha quando está afim e se o chefe olhar
atravessado ou falar algo que ela não goste, não se dará ao
trabalho de utilizar seus vinte centavos de inteligência emocional
para gerenciar a situação.
Querem sim conquistar tudo sem trabalhar duro por isso. Salvo
exceções, a maioria quer que invistam, acreditem e comprem suas
ideias simplesmente porque existem, sem demonstrar qualquer tipo
de garantia ou segurança. Afinal de contas em sua cabeça está tudo
certo e o mundo tem obrigação de lhes aceitar, entendem-se a
evolução da espécie e os dinossauros é que não sabem como lidar
com eles. (E ainda assim entendo que é fundamental fazer o que
gosta e trabalhar com o que se quer.)
Essa nova geração acredita que falar virtualmente é se relacionar.
Entendem que é a nova maneira de relacionamento e que as gerações
passadas não entendem nada. Que ficar dois anos conversando com um
chinês pelo Steam nos torna namorados ou melhores amigos.
Não entendem de fato como as conexões neurais funcionam e o que
significa relacionamento. Não sabem o que é ser diplomático.
Articular. Flexibilizar e contemporizar algum dilema a fim de
manter a relação. Preservar algo de longa data e que sempre foi
bom mesmo quando alguém faz algo de errado. Perceber as coisas
positivas nas pessoas, mesmo que ultimamente ela esteja sendo uma
imbecil.
E não é por causa do tinder ou o que quer que seja dessas
ferramentas digitais modernas. É porque simplesmente essa nova
geração não se importa. Como eles mesmo dizem, estão c@g... pras
pessoas que não são legais.
Alegam que são mais livres em sua forma de se relacionar. Livres
para eles significa absolutamente desapegada. Relação sem apego?
Desculpe, isso não é relação. Alegam que estão quebrando
protocolos sociais e introduzindo uma nova forma de relacionamento
que os dinossauros não entendem. Será que isto é relacionamento?
Considerar descartável? Descartar pessoas?
Ouso afirmar que isso jamais será substituído. Relacionamentos e
pessoas não mudam. Ao menos não nesse nível.
Vale do silício, que é o que há de mais moderno no mundo no que
tange a nova tendência de relacionamento e network é assim
justamente por estreitar os laços entre as pessoas.
Experimente negociar com alguém sem empatia, sem utilizar os
princípios básicos carnegianos, sem entender de pessoas, agindo de
forma desapegada e descartando. Não terá sucesso.
Experimente entender o que é um sentimento profundo e sério sem se
descobrir um pouco mais a cada crise. Explique-me como se evolui
emocionalmente sem viver e enfrentar seus demônios internos?
Sempre trocando quando começa a não ficar conforme sua projeção?
É claro que muitos protocolos estão sendo quebrados e gosto disso.
O que não pode ser feito é tratar relacionamentos e sentimentos
feito fast-food.
Se os parentes, familiares, amigos ou quem quer que seja estiver
sendo tóxico, se afastar é a "solução" mais imatura possível. Até
discutir é melhor que isso.
Aceitar as pessoas como elas são sem julgá-las faz parte do que a
humanidade é e de seus inter-relacionamentos sociais.
Se você não aprende a lidar com o tio chato que é um imbecil sem
noção, a culpa é sua. Aprenda a lidar com pessoas e tire de letra.
Tão mais fácil colocar a culpa nos outros não é?!
Impossível haver só alegrias e felicidades em qualquer tipo de
relação. Isso é contra a lógica da existência humana que é falha e
imperfeita.
Se entendem sem tempo mas não o dedicam a coisas efetivamente
produtivas. Estão sem tempo pois não sabem focar. A não ser que
seja em videogame e em coisas que gostam, tipo tablet e
smartphone.
Nunca tem tempo para nada, mas não se qualificam e também não
produzem algo. Falam que estão tirando tempo para si, quando na
verdade estão alimentando suas obesidades mentais com enlatados
virtuais recheados de cultura inútil - mas que eles escolheram
consumir gulosamente.
Relacionamentos precisam durar sim. Ninguém é uma ilha e também
não somos bonecos de estante. Somos pessoas e precisamos de
pessoas que nos tratem com respeito e que tenham zelo pelos nossos
sentimentos. Simplesmente consumir pessoas como se fossem produtos
de prateleiras não dará certo em tempo algum.
Causas sociais virtuais são bem legais e lindas, mas com o tempo
essa nova geração aprenderá que não adianta mudar aquele negócio
virtual que ninguém sabe direito mesmo se existe ou se o recurso
realmente alcança o objetivo sem mudar primeiro sua família, sua
casa, sua vila, seu bairro, sua cidade, seu país.
Entendo que muitos paradigmas estão sendo quebrados com novas
posturas de gente que nasceu em um mundo totalmente diferente.
Entendo que essas pessoas precisam aprender a se relacionar com as
pessoas que sempre estiveram e sempre estarão no mundo.
Ou os humanos aprendem a conviver entre si, ou teremos em muito
pouco tempo mais uma onda de guerras. Será um retrocesso
evolutivo. O mundo é feito de pessoas e os novos PRECISAM aprender
a se relacionar entendendo maduramente o que sentem.
Enquanto a geração Facebook não passar por provações, certamente
não forçará seu cérebro a entender o que é inteligência emocional.
Afinal de contas ela só amadurece exercitando, e de nenhuma outra
forma.
E hoje eles fogem disso usando desculpas como quebra de protocolos
sociais.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 16.07.2016
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
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