Uma das coisas que
mais me
entristecia na capital era a falta de árvores. Sempre gostei do
cheiro úmido do
mato, o barulho das folhas dançando com o vento. A brisa
lambendo as flores e
espargindo pólen e perfume pelo ar...
Nunca fiz
distinção entre elas,
embora reconheça que as frutíferas sempre me alegraram mais. Sou
uma criança
declarada. Não posso ver um pé de ameixinha amarela e quero
subir e comer
sentado nos galhos. Ameixa vermelha então, comia até dar dor de
barriga.
Por infelicidade
do destino,
minha fruta preferida não é vendida em mercado, fruteira ou o
que quer que
seja. A pitanga só pode ser apreciada direto da fonte. Ou
acha-se uma
pitangueira e delicia-se de suas maravilhosas frutinhas, ou
nunca as conhecerá.
Talvez por ser
muito delicada,
embora rupestre, a frágil pitanga não aguenta acondicionamentos
nem tampouco
transportes. E isso sempre me frustrou muito. Abandonar o
interior significou
por muito tempo abandonar também esses hábitos simples.
Hoje felizmente
voltei a morar em
Santo Ângelo e o destino que outrora castigara-me, agora
presenteia-me com uma
pitangueira justo no prédio em que moro.
Mas a vida de um
apreciador de
sabores peculiares não é fácil. Nos fundos desse mesmo prédio,
no meio do pátio
do vizinho, há uma pitangueira que dá fruto o ano inteiro, como
se estivesse
abanando para mim provocantemente. E não posso nem invadi-lo
furtivamente, pois
há lá dois cães de guarda.
Não obstante,
agora em época de
pitangas, passeio pela cidade e vejo uma quantidade gigantesca
de pitangueiras
– mais de 10 para mim é um horror, já que não tinha nem uma na
capital – todas
com frutas maduras, mas que por fatalidade já foram atacadas por
crianças mais
rápidas e com mais tempo que eu, e que agora só possuem frutas
na parte
superior das copas.
Sim, só posso
ficar olhando. Não
tenho como sair subindo nas pitangueiras das casas de qualquer
pessoa.
Mas o ponto
principal é que a
pitangueira do meu prédio resolveu me sacanear esse ano. Não
está dando frutas.
Imaginem o desaforo?!
O mesmo destino
que a colocou em
meu habitat, agora me ludibria. Chego ao ponto de parar
diariamente e ficar
conversando com a fazida, já que dizem que falar com plantas é
bom, que elas
gostam e tal.
Se alguém tiver
uma pitangueira
em casa ou souber de algum lugar onde eu possa passar algumas
tardes inteiras
usufruindo da melhor fruta que existe, por favor, salve este
pobre
pseudo-escritor dessa tristeza sem fim. Ligue-me, mande-me um
e-mail, um tuíte,
um recado no face ou qualquer coisa que o valha.
Agradecer-lhe-ei para sempre.
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