Muita gente fala que eu falo mal dos servidores públicos.
Ok, reconheço que pego pesado generalizando e fazendo parecer que
todo mundo está no mesmo cesto. Entretanto, isso não é verdade.
Conheço uma boa quantia de profissionais que realmente servem o
público.
São pessoas que passaram em concurso porque queriam fazer a
diferença. Gente que quer acabar com essa barbaridade toda que
impera hoje no mundo público.
Na iniciativa privada a coisa é diferente. Quem não está satisfeito,
não fica no trabalho.
Via de regra, ou as pessoas pedem demissão ou fazem de tudo para
serem demitidas.
Fato é que na iniciativa privada quem não entrega resultado não
dura.
Entretanto, como vivemos em uma cidade eminentemente de servidores
públicos, onde há, infelizmente, uma cultura do ganhar por um
emprego e não pelo trabalho efetuado. Do ganhar pelo título e pela
prova, e não por competência, experiência, conhecimento ou
eficiência.
Aqui, invariavelmente, muita gente que não quer trabalho e quer
apenas um emprego acaba caindo na iniciativa privada e declinando a
curva de produtividade de onde entraram.
Reparem, reforço que não sou, absolutamente, contra o serviço
público e principalmente contra servidores públicos. São eles que
fazem a nação andar.
Sou natural de Santo Ângelo e cresci aqui convivendo com muita gente
que hoje é concursada; converso com muita gente em função pública e
sei das mazelas e das frustrações de quem quer fazer a diferença,
quem quer trabalhar, quem quer mudar o mundo e entregar resultado e
não consegue porque ou o sistema não permite ou porque os colegas
impedem.
Essas pessoas são dignas de troféu, porque eu no lugar delas teria
pedido as contas e ido trabalhar na iniciativa privada, como de fato
fiz.
Me irrita ver gente trabalhando e reclamando da função, do salário,
do chefe, das tarefas, dos colegas e do que mais aparecer na frente.
Que peça demissão, pelo amor de Deus, e vá procurar algo que esteja
de acordo com suas expectativas então, bolas! Isso, claro, se tiver
competência para isso.
Greve por salário? Cara... Troca de emprego!
Há também aqui muita gente empreendedora e batalhadora, que dá o
sangue pelo que faz, que realmente se esforça e faz a diferença.
Essas pessoas são as mais indignadas com improdutividade e
incompetência. Elas tendem a não saberem se relacionar com quem quer
apenas bater o ponto e fazer o básico.
Recentemente entramos em contato com uma certa funcionária pública,
que tem feito um excelente trabalho. De pronto, a elogiamos e
comunicamos a todos do louvável trabalho no desempenho de suas
funções. Infelizemente, ainda não tive a oportunidade de falar isso
pessoalmente, mas certamente o farei.
Vejo conflitos de casais onde uma das partes se vitimiza e quer
apenas a estabilidade e um emprego com bom salário e a outra parte
quer mudar o mundo, quer entregar resultado, quer iniciativa
privada, quer colocar ideias em prática e empreender, mesmo que isso
envolva grandes riscos. Nesse fogo cruzado entre uma grande carreira
profissional, com superação de si próprio versus um emprego
razoável que ofereça uma certa garantia sem riscos, fica a formação
de uma família, com os filhos e seus sonhos particulares e até mesmo
animais de estimação, e um desejo incontrolável de acomodação.
Normalmente, não há compatibilidade entre ambas. Enquanto uma quer
apenas trabalhar em horário comercial (ou menos que isso) e ganhar
seu dinheirinho fixo no final do mês, a outra quer dar vazão à
insaciável sede por desafios, conhecimento, superação.
Via de regra, alguém que tem sucesso na iniciativa privada precisa
dedicar muito mais tempo para o lado profissional do que para o
pessoal. Estuda muito, está sempre em treinamentos e qualificações,
dorme menos, trabalha de madrugada, finais de semana e feriados. Faz
a coisa acontecer.
Não conheci nem um executivo de sucesso durante os quase 15 anos que
morei em Porto Alegre que tivesse chegado ao topo sem muito esforço,
dedicação, finais de semana, feriados e noites em claro.
Para ser melhor que os outros é necessário fazer o que os outros não
fazem. Se você faz o que todo mundo faz, será na melhor das
hipóteses igual a todo mundo.
Quem pensa assim não tolera ganhar a mesma coisa que o colega ao
lado sendo que é mais qualificado e entrega maior resultado.
Quem não pensa assim prefere a tranquilidade da estabilidade, o
conforto do tempo para desfrutar o dinheiro do mês viajando ou
comprando o que bem entende. Prefere priorizar uma vida tradicional,
com família e pets.
Perceba, não há certo e errado nisso. Há pontos de vista e opiniões.
Claro que, invariavelmente, eu vou puxar a brasa mais para um lado
por ser o que eu mais gosto, mas trago aqui a luz do contraponto.
Há também que se ressaltar a parte mais importante disso tudo. O
meio termo.
Sim, ele existe e é possível!
Obviamente que no meio termo o meio termo precisa ser utilizado. Não
se é um executivo top sendo meio termo. Se é um bom executivo, se é
um executivo. Mas não o top. Para ser top é necessário abrir mão de
algumas coisas que o meio termo não admite.
O mesmo serve para o que busca apenas estabilidade e horas a menos
de trabalho ou apenas aquele horário de trabalho. Para se conviver
com alguém que ambiciona um mundo e uma realidade diferente, é
necessário flexibilizar quanto a filosofia de vida.
Para manter uma união em meio a esse conflito de filosofias é
necessário o mais precioso dos ingredientes em relacionamentos. Não,
não é o amor. É a inteligência!
Alguns chamam de bom senso. Eu chamo de tentar encantar o outro
todos os dias. Sobretudo nesse tipo de relação, quando uma parte se
acomoda, o relacionamento desanda.
Não desistir, cada um fazer sempre a sua parte sem esperar que o
outro também faça, por quanto tempo aguentar, faz com que a união
sempre se fortaleça e eventualmente os cônjuges se apaixonem
novamente de tempos em tempos.
Escolha seu caminho, e para fazê-lo, é necessário saber exatamente o
que se quer da vida e para seu futuro.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 05.03.2016
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
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