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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Amamentar em Público




Parte I

Estávamos jantando em família, com objetivo de confraternizar e rever alguns amigos de meu pai, quando de repente uma mulher, que estava no meio do salão, sem pudor ou vergonha algum, abriu sua blusa e tirou os seios para fora.
O fez como se fosse a coisa mais normal e natural do mundo mostrar os seios em público. Primeiro os expôs, depois se virou para o carrinho ao lado, descobriu o bebê, o pegou no colo, o ajeitou, e só então, depois de uns bons três minutos com tudo a mostra, colocou seu filho para mamar em um deles enquanto o outro continuava ao ar livre.
Posso estar atrasado, mas até onde sei as mulheres não podem sair com eles a mostra ou serão enquadradas em atentado violento ao pudor. Homem nenhum tira a camisa ou arria as calças em ambientes multifamiliares de respeito.
Todo mundo continuou jantando, alguns como se nada tivesse acontecido, e outros como eu, constrangidos.
Se eu tivesse um filho pré-adolescente, ou se fosse minha esposa a mostrar os seios para todos, certamente eu a repreenderia com veemência. Estamos em um país machista e conservador, e independente do que digam, somos todos produtos do mesmo meio, e ainda que a mente de alguns seja mais despojada, as leis e as regras sociais estão aí justamente para delimitar alguns comportamentos.
Mesmo que digam que é um ato lindo, que é o amor de mãe alimentando um filho faminto, que não há como ver maldade nesse tipo de gesto, explique isso para crianças com hormônios explodindo e que nunca viram um seio ao vivo, ou para qualquer homem tarado ou mesmo indiscreto.
Nada justifica tamanha exposição. Nenhum argumento convence de que a mãe não poderia tranquilamente sair do meio de todo mundo, ir à copa, ao banheiro, ao carro, algum canto qualquer, cobrir o nenê e os seios com algum paninho, e ser discreta.
Se eu fosse mulher e mostrasse os seios para todo mundo, certamente ficaria no mínimo com uma sensação de libido aumentada, pois não há como expor uma parte de seu corpo relacionada por todos os homens a sexo e não sentir algum tipo de sensação que remeta a isso.
Para mim, embora muitas mães tenham me dito o contrário, é necessário uma boa dose de depravação para que tamanha exposição seja consumada. É necessário um rompimento forte com os valores morais e uma dose cavalar de coragem.
E depois essas mesmas mães tem a cara de pau de reclamar da pornografia na televisão e da exposição desnecessária das mulheres que fazem de tudo um muito para aparecer.
Fácil falar dos outros, difícil é mudar nosso próprio comportamento.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 14.12.2013

Editado/corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
Parte II
O último texto que escrevi foi, indubitavelmente, o mais polêmico. Mas não exatamente pelo que escrevi, e sim pela incompetência das pessoas (algumas) em interpretar.
O texto falava sobre amamentar em público e o quão eu sou contra a exposição do seio. No entanto as pessoas resolveram interpretar como se eu fosse contra mães amamentarem ou o ato da amamentação. Chegaram a afirmar que eu queria ver crianças chorando de fome. As pessoas simplesmente ignoraram a parte onde eu falava para amamentarem colocando um paninho na frente. Honestamente não entendo essa necessidade de exposição do seio. Sou a favor de tudo relacionado à amamentação, apenas discordo da exposição do seio materno em público. Desenhando para que fique claro: TODO O SEIO.
Não estou aqui para me retratar. Muito pelo contrário. Estou aqui para ratificar cada palavra por mim escrita e dizer que sou responsável pelo que escrevo. Aproveito também para dizer que aceito a opinião das pessoas que reclamaram, embora não concorde.
Especialmente gostaria de agradecer aos elogios, que foram em torno de quatro vezes em maior quantidade do que as críticas.
E como ponto principal, o que realmente me entristeceu e incomodou, foi ver gente hipócrita e demagoga, que se diz politizada e culta, fomentando atitudes de baixo calão simplesmente por alguém pensar diferente.
Honestamente prefiro ser um moralista caxias na visão dos outros a sair ofendendo todo mundo sem qualquer noção de civilidade, fomentando agressão física por alguém não pensar como eu (linchar em praça pública me fez até rir).
Sem ser irônico, eu ri. De desprezo e tristeza. Pessoas ofenderem-me pessoalmente por pensar diferente e ainda terem o desplante de me chamar de homem das cavernas? Realmente não tenho palavras.
Muitos advogados vieram me procurar sugerindo que eu acionasse essas pessoas, que eu teria direito e que ganharia muito. Mas então eu pergunto: será que vale a pena dar ouvidos a quem te ofende pessoalmente sabendo que essas pessoas não têm condições sequer de interpretar um texto coerentemente, ou de vir falar comigo pessoalmente? Ou pior, não serem capazes de aceitar a opinião alheia sem que ela seja exatamente igual a delas? É mais ou menos, ou tu gosta do azul também, ou quebro teu nariz.
Gente que pensa tão pequeno a ponto de não conseguir aceitar a democracia, o direito de opinião e a diversidade de ideias e que não sabe discutir um assunto sem ofender seus interlocutores, não merece minha atenção. Pensem bem, foi muito além de apenas discordarem de minhas ideias, manifestaram publicamente que eu não PODERIA tê-las. Que minha maneira de pensar estava errada e a deles certa. Que apenas por pensar divergentemente, deveria ser calado para sempre, apedrejado, preso, isolado, excluído.
Pasmem, pessoas que pregam da boca para fora todos os dias exatamente o contrário. Mas na hora de praticarem um pouco de respeito e civilidade...
Nessa hora lembro saudosamente de Eduardo Matzembacker e Francisco Medeiros que, embora discordem completamente das minhas opiniões, sempre as contrapuseram com muita categoria, fazendo-me em muitos casos, repensar e mudar de ideia. Isso é o que acrescenta e esse tipo de gente eu respeito, mesmo que não concorde com tudo que digam.
Para encerrar cito Voltaire: “Posso discordar completamente daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizeres.” Apenas acrescento: desde que não sejam palavrões e frases de baixo calão.
TEXTO CENSURADO PELO JORNAL
(Eles informaram que esse assunto já tinha dado alvoroço demais e que não queriam mais publicá-lo)

Editado/corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br
Alguns comentários que eu achei pertinente mencionar:
Danilo Branco Rodrigo Zucco, li tua coluna e sinceramente não entendi porque todo esse alvoroço. Fiquei triste em primeiro lugar, pois apesar de estarmos toda hora dizendo que estamos no século vinte e um, algumas pessoas ainda estão no período neanderthal (o primeiro a ter ares estéticos: olha a ironia). Cara, fiquei extremamente temeroso, pois se tu com essa coluna light praticamente foi linchado em praça pública (vi uma mãe que propôs isso e fiquei imaginando o que o filho dela será quando tiver 18 anos) o que sobra para quem realmente pensa diferente. Sim, pois tuas ideias não são exclusivas. Conversei com alguns amigos e amigas que estão fora desse "alvoroço" e ouve unanimidade: compartilham da tua opinião. Eu principalmente. Antes de minha filha nascer, eu e minha mulher combinamos que ela nunca iria amamentar em público. Justamente por ser um momento íntimo entre mãe e filho, ninguém mais precisa compartilhar desse momento. E quando alguma mãe que eu nem conheço, o faz na minha frente, também fico constrangido. Mas tudo bem, pelo que vi no clamor das pessoas que querem te linchar, nós não temos mais o direito ao constrangimento. Vivemos numa sociedade onde os incomodados que se retirem e ponto final. Mas enfim, não vejo isso como o mais importante nessa história toda. Como comecei dizendo, o que me assusta é saber que a primeira pessoa a pular fora das ideias sociais enlatadas é sempre a primeira a ser apedrejada. E apedrejada por quem fabricou a lata, lógico. Uma ou outra pessoa conseguiu manter a coerência e te responder a altura. Mas também, o que esperar de um povo que escreve "serto"? De um povo que se incomoda com uma opinião tão trivial mas deixa seus filhos assistirem BBB e dançarem as músicas clássicas da Anita e do Naldo? É, meu amigo. De repente a saída é a mesma dos grandes meios de comunicação (leia-se rede globo): vestir-se com roupas de marca e aprimorar nosso cinismo. Senão, fogueira pra ti, Zucco!!! E em praça pública, pra que todos vejam o que dá pensar (nem tão) diferente (assim).
Eduardo Matzembacher Frizzo O principal problema do seu texto é o modo como tratou o assunto em pauta. Realmente vivemos em uma época de superexposição do corpo - sendo que, no meu entender, esse é o pano de fundo do seu artigo, o que concluo por conta do parágrafo final. Mas abordar essa temática a partir de uma mãe que amamenta seu filho em público, consiste em um chamariz para discórdias. Por outro lado, sustentar uma posição se utilizando das palavras "machista" e "conservadora", igualmente é algo que inevitavelmente cria "feridas sociais", digamos assim. Creio, portanto, que essas são as razões, racionalmente falando, dessa discussão toda em torno das suas palavras. De minha parte, tenho a dizer que há alguns anos já tive problemas com artigos que publiquei nos jornais de Santo Ângelo. Certo texto de minha autoria, inclusive, transformou-se em uma corrente de e-mails que visava não apenas atacar minha posição, mas denegrir minha imagem. Em outra oportunidade, em época pré-eleitoral, um texto meu foi censurado pelo editor de certo jornal. A diferença é que muito raramente trato de temáticas como essas que você aborda, Rodrigo Zucco. Minha pauta, pelo contrário, é voltada eminentemente para questões políticas e sociais que atingem o bem coletivo, como falo de forma exaustiva. Consequentemente, jamais sofri ataques como esses que recaíram sobre você. Devo dizer, por fim, que discordo do seu posicionamento. Não vejo nesgas libidinosas no fato de uma mãe amamentar seu filho em público. Vejo, outrossim, algo plenamente normal, afeito à nossa natureza animal. Cobrir ou não cobrir os seios no ato da amamentação, por exemplo, diz respeito a uma atitude da ordem moral. Como a moral, conceitualmente, pertence ao foro íntimo dos indivíduos, podemos ou não concordar com esse ato, algo que é plenamente compreensível. Expor posicionamentos morais de forma generalista ("a moça X é vagabunda porque usa roupas muito curtas", "o sujeito Y é esquerdista porque discorda do Julgamento do Mensalão", etc.) é um grande perigo, ao qual todo e qualquer articulista está submetido. Dessa forma, não vejo nada demais nessa repercussão do seu texto. Seu erro talvez tenha sido essa postagem, com todo o respeito. Se fosse comigo, eu simplesmente deixaria estar, como fiz nas ocasiões que citei acima. Mas já que a postagem está aí, não se pode voltar atrás. Sem mais mas sempre com muito na garganta, Eduardo Matzembacher Frizzo. Um abraço! P.S.: Agradeço pela gentil menção!
Carol Ferrary Rodrigo Zucco, Vi muita coerência no texto. O seio não é uma parte do corpo qualquer, como uma mão ou o nariz, é uma parte íntima. Acho que a mãe, quando amamenta, tem sim que preservar ao máximo a exposição desnecessária do seio, amamentar em público deveria ser feito apenas em caso de última necessidade. Vou dar um exemplo, não com as mesmas proporções, mas apenas para ilustrar minha linha de raciocínio... As pessoas, não deveriam nunca urinar em local público, mas em alguns casos não têm outra alternativa, e qdo isso ocorre, os homens costumam se esconder atrás de alguma coisa, ou ficam virados para as paredes, assim como as mulheres se abaixam em algum canto, ninguém simplesmente baixa a calça e faz xixi no meio de outras pessoa.
É óbvio que se o bebê está com fome, e a mãe está em local público, ela vai amamentar e fode-se.
O mundo mudou muito em relação ao "pudor", hoje as novelas em horários que crianças estão vendo TV mostram cenas de nudez e sexo, isso sem falar em cenas de crimes com bastante violência. Essas crianças são os adultos do futuro e cada vez mais o corpo será banalizado.
Sou da opinião que resguardar um pouco a intimidade é uma questão de respeito. Considero o seio uma parte íntima do meu corpo, eu tentaria ao máximo preservar em respeito ao meu marido e ao meu filho.