Tenho um primo que foi tocado pelo
amor. Mas daqueles verdadeiros e arrebatadores onde a paixão não lhe
abandona. O relacionamento findou e ele ainda não se curou. Ele não
acredita no matrimonio.
Vê o copo meio vazio em uniões. Argumenta que é
uma instituição falida. Primeiro que não podemos comparar os
relacionamentos atuais com os antigos. Os tempos mudaram, as pessoas
mudaram, os relacionamentos mudaram e consequentemente as uniões também.
A todas as pessoas que apedrejam o casamento e a esse primo que amo
muito e que possui um coração tão grande e forte, com tanta gente e
sentimentos dentro que literalmente mal dá conta do recado, tenho
algumas considerações a fazer. Estou casando, juntando as escovas de
dente, ou no vocabulário dele, me enforcando. Estou no que ele chama de
corredor da morte, e estou feliz. Ok, sou louco, doido varrido como
todos asseguram, mas não por isso. Estou aqui para assegurar que o amor
existe ainda, a paixão também, os bons sentimentos idem. Valores e
caráter não se extinguiram.
Respeito é utilizado por quem sabe de sua
importância. Dizer que todos os seres da face da terra negligenciaram
seus valores mais caros em detrimento de uma causa superficial é, no
mínimo, um ultraje. Os humanos ainda sentem, acreditam, têm fé e
esperança. Querem ter uma família feliz com filhos e amor. Uma das
pessoas que mais admiro, meu pai, ainda quando eu era pequeno ensinou-me
que um relacionamento dura apenas se o casal for inteligente. E eu
aprendi quando eles se separaram depois de 50 anos de casados que além
da inteligência é necessário Q.E. (quociente emocional), para conseguir
dialogar. Há algumas situações as quais eu chamo de momento Mastercard
como deitar na cama e encaixar os corpos, aquecer-se mutuamente no
inverno, sorrir de besteiras, poder ser sincero e honesto em coisas
delicadas, achar belo o rosto inchado pela manhã, esfregar os pés
automaticamente ao mesmo tempo, sintonizar-se, conhecer a frequência de
tudo,
entender que aquele tipo de respiração é nervosismo e que a outra é
tristeza, ganhar um upa carinhoso, ouvir palavras de gratidão e
carinho, ser presenteado com um sorriso sincero e irradiante que
contagia e alegra seu dia e espírito, sentir o cheiro da outra pessoa em
você durante o dia, vê-la usando suas roupas, sendo criança,
brincalhona, feliz apenas por estar contigo fazendo nada de especial e
isso ser recíproco, passear junto, conviver, conversar, trocar ideias,
mudar de opinião, ceder, ousar, conquistar, apresentar aos amigos, entre
muitas outras, que não tem preço e pesaram para eu decidir pela
aliança. Acontece que precisamos encontrar alguém que consiga manter-se
calma enquanto estamos brabos, que aceite como somos mesmo que para isso
precise ceder em alguma coisa, pois ceder faz parte. Que saiba
conversar na nossa linguagem, que respeite nossos princípios, que
compartilhe ao menos da maioria de nossos valores, que nos incentive,
nos acompanhe, nos apoie, nos auxilie, nos encoraje e principalmente,
que tudo isso seja recíproco. Ninguém sai de um relacionamento como
entrou, sempre mudamos, evoluímos, aprendemos, melhoramos. Isso faz
parte do processo evolutivo individual. Levamos coisas da pessoa conosco
e deixamos coisas nossas.
Os condicionais existem sim, não é uma fusão
de personalidade e de dois corpos em um, a individualidade permanece. Se
não fumar é importante para mim e ela fuma, ou eu não namoro com ela,
ou se já o faço, negocio. Fumei durante 6 anos de namoro, ela aceitou e
eu parei apenas por escolha pessoal. Óbvio que é necessário ultrapassar
dificuldades por amor. Mas isso não significa que certas condições
inexistam. Eu amo minha futura esposa, mas ela que experimente fazer
greve de sexo para ver o que ocorre. Ou seja, sexo é uma condição. Não
há como testar antes de casar. O que fica subentendido do casamento só é
somatizado quando de fato acontece. E é quando se sente isso na pele
que as coisas ocorrem. Sair testando os limites dos outros é suicídio
matrimonial. O amor cresce
com a convivência e ao longo disso aprendemos
a zelar. Não há como evitar meter-se na vida do outro pois as vidas
nesta etapa são compartilhadas, bem como finanças e decisões. Não é
necessário dinheiro e estudo para estabelecer uma união. Tem gente que
vive bem na miséria, que não precisa ter para ser, que aceita mesmo e de
cara limpa novos desafios por amor, que faz de sua inteligência o
suficiente para um diálogo e um bom entendimento. Não há imposição, isso
é falácia. Quando um não quer, dois não casam. E a culpa do insucesso
não é do casamento e sim das pessoas que não são capazes de permanecer
como estavam antes de fazê-lo. Reforço, o que muda é o que fica
subentendido. Minha dica é que casem, mas permaneçam eternamente
namorados. Fazer-se ouvir faz parte da receita do sucesso. O grande
segredo é: Depois de casados, não mudem!
Não esperem que o marido mude.
Ele não vai mudar. Se você namorou com ele e decidiu casar é porque
gostava de como era. Então mudar agora sob que argumento? Não pense que
agora pode mandar, que agora ganhou um certificado de autoridade. Não
mude! A pessoa gostava de você como vinha sendo e casar não significa
que novos direitos são conquistados. A diferença mais importante é que
muita gente hoje se respeita demais para continuar com algo que já
acabou. E antigamente as aparências importavam mais. Hoje pensamos em
nós tanto quanto na pessoa que amamos e temos coragem de encerrar algo
que não nos completa. Talvez o casamento hoje seja até mais verdadeiro,
claro e saudável que antigamente. Talvez até as pessoas hoje se separem e
continuem amigas, coisa que não ocorria no passado. São muitas
variáveis a serem levadas em consideração e pesam demais para uma
sustentação tão frágil como um comparativo com o que era no passado. Meu
conselho: CASE-SE, atreva-se, dê a cara a tapa, esforce-se e de o
melhor de si para que dê certo, acredite e só então opine. Poucos
vencem, pois poucos tentam até o fim.
Publicado em: A Tribuna Regional no dia 06.10.2012
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