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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Atirando aos Leões II




Os cativos leitores de meus textos sabem que um dos principais propósitos na escolha dos assuntos é justamente instigar e provocar o leitor a redarguir. A possibilidade de ser desafiado por alguém que pensa diferente, de contrapor, de argumentar e, oxalá, de convencer-me que determinado ponto de vista é falho, definitivamente, excita-me.
Um dos textos por mim escritos - “Atirando aos Leões” - foi contraposto por uma das minhas mais fiéis leitoras. E o foi feito de maneira magistral. Tanto que, em um espaço aonde tradicionalmente traço continuações, hoje venho para voltar atrás.
Em “Atirando aos Leões”, fomentei que as pessoas enfrentassem seus medos, que se atirassem aos leões, para que pudessem experimentar-se, conhecer-se, enfrentar-se e, finalmente, atingir um resultado positivo e diferenciado em suas vidas.
Depois da conversa com a leitora que se sentiu preocupada e incomodada, a ponto de se prontificar em passar um bom tempo redarguindo comigo, mudei de opinião.
Ser atirado aos leões exige uma grande quantidade de pré-requisitos que a avassaladora maioria dos humanos não os possui. Conversando com essa iluminada e paciente mente, entendi que é impossível querer que todas as pessoas permitam-se agir dessa forma e ter a tal atitude.
Um humano convencional possui uma determinada base emocional suficiente para que todas as suas escolhas sejam suportadas e administradas. Caso algo extrapole essa base, aparecem doenças psicossomáticas, alterações no apetite, estresse, insegurança, ...
Esse nem é o principal problema. Para ser atirado aos leões, é necessário que se tenha uma forte estrutura e organização mental. É basilar que tudo, nessa seara, seja bem sólido e firme.
Caso um humano seja atirado aos leões contra sua vontade e não tenha a estrutura mental necessária para enfrentar algo desse nível, o resultado pode ser extremamente danoso.
Isso é tão sério que, se alguém que não tenha estrutura para enfrentar-se, permitir-se, conhecer-se, desafiar-se, seja atirado aos leões, pode ser devorado por eles.  E, quando digo ser devorado, refiro-me a gente que, quando colocada a prova (provas internas e profundas), desorganiza-se tão profunda, tão drástica e tão complexamente em sua base mental, bagunça tanto suas ideias e seus pensamentos, que não terá condições de reorganizar-se.
São pessoas que se suicidam, que rompem o elo com a realidade e enlouquecem, que viram drogados, alcoólatras, etc. O choque é tão forte e poderoso que, quem não tem estrutura para agüentar, desorganiza-se a ponto de não conseguir reestruturar-se novamente: Jamais!
Até escrever o primeiro texto, ficava indignado com as pessoas “mornas” que passavam a vida inteira em suas zonas de conforto e tinha comichões por atirá-las. Em toda e qualquer oportunidade, fomentava que o fizessem por si e quando não acontecia – a maioria dos casos, diga-se de passagem – eu ficava ainda mais revoltado.
Continuo não me conformando com pessoas acomodadas e mornas, mas agora não pretendo mais jogá-las, por saber que muitas realmente não conseguiriam. Hoje, entendo que, se fizesse o que havia proposto no primeiro texto, mais de 80% dos humanos ou morreriam ou enlouqueceriam.
O que não significa que devamos nos aceitar resilientemente. Precisamos sim buscar melhoria contínua e testar nossos limites até o máximo. Ocorre que agora entendo que há um limite e que ele é individual. Meu limite é diferente do seu.
Aquelas pessoas que não querem melhorar, que não querem conhecer-se, nem se experimentar, continuam tendo meu desrespeito. Afinal de contas, quem está acostumado a caçar leões jamais convidará quem sequer tenha coragem de caçar ovelhas para passar uns dias em seu habitat.

“Pior do que você querer fazer e não poder é você poder fazer e não querer.” Autor desconhecido.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 26.07.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br