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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Felicidade explícita





A felicidade é algo que não pode ser escondido!
Por mais controlada que a pessoa seja, não há como mascarar uma alegria genuína. É um “vulcão” inconveniente com uma força hercúlea e insolente que se manifesta sem pedir licença. Entra em erupção com tanta violência e vigor que faísca através dos olhos na forma de um radiante brilho, denunciando, mesmo a quem não quer ver, o torpor interno que não pode ser confinado.
Essa felicidade também é percebida na postura altiva e lépida, no sorriso fácil que escapa por toda a face, da boca aos olhos. Nos gestos, na escolha das palavras, no cotidiano.
No mundo da corretagem, existe um jargão muito utilizado que diz: “bom negócio só deve ser anunciado depois de concluso”. Isso ocorre, pois, como esse universo é bastante hostil, quem divulga pode perdê-lo à concorrência.
O problema, nessa situação, é que, quando estamos sincera e profundamente felizes com algo, queremos espalhar aos “quatro cantos”, compartilhar com quem queremos bem, verbalizar a alegria por algo que nos alimenta a alma. E nem sempre podemos.
Lembro-me bem de um episódio que comecei a namorar com uma professora de informática. Era proibido. Se alguém soubesse, eu colocaria em risco seu cargo. Todavia, estávamos apaixonados. A vontade que eu tinha era de apresentar para meus amigos, para minha família, para meus conhecidos, para os colegas de aula e de trabalho dela. Queria, com toda a empolgação que me é característica, comentar com todo mundo, contando vantagem de que estava “pegando” a professora e que havia conquistado-a, a ponto de transformar isso em um relacionamento sério; Não podia, entretanto.
Evidente que os colegas sentiram um “clima” diferente no ar. Afinal de contas, fui aluno dela em uns cinco cursos diferentes; Alguns segredos, entretanto, precisavam continuar em segredo. E convenhamos: o que é proibido tem um sabor diferente!
Curtir aquela sensação de ter e não poder falar; de não poder e, mesmo assim, fazer; e de, sobretudo, gostar de estar cometendo uma pequena transgressão que não faz mal para ninguém e que nos faz um bem incomensurável, não tem preço.
O segredo durou até uma noite que minha mãe ficou esperando acordada até as cinco horas da manhã. Preocupadíssima! Ela achando que eu estava tendo um caso com uma prostituta. Então, para tranquilizá-la, falei a verdade, e assumimos o namoro. Nessa fase, já não era mais aluno. Confesso que não ser mais proibido tirou um pouco do encanto, porém, como ainda era início, a alegria de poder “vomitar” aquele bolo de sentimentos guardados na boca do estômago, por tanto tempo, para todos que notavam, dia após dia, minha mudança de comportamento e minha transbordante melhora de humor, obliterou qualquer tipo de arrependimento.
Um sentimento tão forte quanto esse não deveria ser privado de compartilhamento por quem quer que seja. Independente da situação, deveria ser possível manifestar a todos, repetidas vezes, para que, abobadamente, os apaixonados pudessem “alugar” os ouvidos dos “pobres” amigos (o que de fato acontece em muitos casos) com suas peripécias.
E nisso me refiro não apenas ao âmbito de relacionamentos, contudo a grandes negócios, a conquistas, a um casal que queria muito ter um filho e recebe o teste positivo, a uma nova aquisição, a uma nova empreitada, e assim por diante. Coisas que, normalmente, precisamos guardar em segredo, por um tempo que seja. Que é curto, mas, extremamente, desesperador e intenso.
Ainda assim, estar feliz com alguma coisa, mesmo que não possa ser compartilhada, é o que torna a vida tão satisfatória. É o que nos faz seguir em frente e nos abastece para seguirmos firmes em frente. Sendo assim, deixo aqui o meu “call to action”: “Faz aquilo que te faz feliz. Busca a felicidade, a qualquer custo. Faz, até não teres mais energia. Curte perder o sono. Goza! Só assim terás o brilho no teu olho, para encantares teus netos, contando sobre tua vida. E guarda segredo, quando for preciso, ao menos até encerrar o negócio.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 23.08.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br