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sábado, 5 de novembro de 2016

Geração Facebook 2


Li um texto fabuloso de uma garota da geração Facebook explicando o porquê de seus relacionamentos e tentando justificar sua volubilidade. 
Tudo faz sentido em minha cabeça, talvez por estar na geração intermediária entre a nova e a antiga e ter pego um pouco de cada. Ela alega que sua geração não é preguiçosa, que não querem conquistar tudo sem trabalhar por isso, que não se acham especiais, que sabem se relacionar com pessoas, que estão quebrando protocolos sociais, que estão de saco cheio de relações tóxicas, não querem preservar relações familiares ou conjugais que não sejam totalmente satisfatórias, que tem laços intensos com seus amigos virtuais, que dedicam o pouco tempo que possuem fazendo o que amam, que relacionamentos não precisam durar e que participam ativamente de projetos sociais virtuais para causas lindas e nobres 
A geração nova é sim preguiçosa, independente do que digam. Quando alguém faz só o que gosta, está vivendo em seu mundinho imaginário, não em sociedade. Viver em sociedade significa ceder, flexibilizar, fazer o que precisa ser feito eventualmente mesmo que não goste. Se todo mundo fizesse apenas o que gosta então teríamos escassez de quase tudo no que se refere a qualificação profissional.       
Preguiçosa porque só estuda o que quer, só faz o que gosta e quando gosta, só trabalha quando está afim e se o chefe olhar atravessado ou falar algo que ela não goste, não se dará ao trabalho de utilizar seus vinte centavos de inteligência emocional para gerenciar a situação. 
Querem sim conquistar tudo sem trabalhar duro por isso. Salvo exceções, a maioria quer que invistam, acreditem e comprem suas ideias simplesmente porque existem, sem demonstrar qualquer tipo de garantia ou segurança. Afinal de contas em sua cabeça está tudo certo e o mundo tem obrigação de lhes aceitar, entendem-se a evolução da espécie e os dinossauros é que não sabem como lidar com eles. (E ainda assim entendo que é fundamental fazer o que gosta e trabalhar com o que se quer.) 
Essa nova geração acredita que falar virtualmente é se relacionar. Entendem que é a nova maneira de relacionamento e que as gerações passadas não entendem nada. Que ficar dois anos conversando com um chinês pelo Steam nos torna namorados ou melhores amigos. 
Não entendem de fato como as conexões neurais funcionam e o que significa relacionamento. Não sabem o que é ser diplomático. Articular. Flexibilizar e contemporizar algum dilema a fim de manter a relação. Preservar algo de longa data e que sempre foi bom mesmo quando alguém faz algo de errado. Perceber as coisas positivas nas pessoas, mesmo que ultimamente ela esteja sendo uma imbecil. 
E não é por causa do tinder ou o que quer que seja dessas ferramentas digitais modernas. É porque simplesmente essa nova geração não se importa. Como eles mesmo dizem, estão c@g... pras pessoas que não são legais. 
Alegam que são mais livres em sua forma de se relacionar. Livres para eles significa absolutamente desapegada. Relação sem apego? Desculpe, isso não é relação. Alegam que estão quebrando protocolos sociais e introduzindo uma nova forma de relacionamento que os dinossauros não entendem. Será que isto é relacionamento? Considerar descartável? Descartar pessoas? 
Ouso afirmar que isso jamais será substituído. Relacionamentos e pessoas não mudam. Ao menos não nesse nível. 
Vale do silício, que é o que há de mais moderno no mundo no que tange a nova tendência de relacionamento e network é assim justamente por estreitar os laços entre as pessoas. 
Experimente negociar com alguém sem empatia, sem utilizar os princípios básicos carnegianos, sem entender de pessoas, agindo de forma desapegada e descartando. Não terá sucesso. 
Experimente entender o que é um sentimento profundo e sério sem se descobrir um pouco mais a cada crise. Explique-me como se evolui emocionalmente sem viver e enfrentar seus demônios internos? Sempre trocando quando começa a não ficar conforme sua projeção? 
É claro que muitos protocolos estão sendo quebrados e gosto disso. O que não pode ser feito é tratar relacionamentos e sentimentos feito fast-food. 
Se os parentes, familiares, amigos ou quem quer que seja estiver sendo tóxico, se afastar é a "solução" mais imatura possível. Até discutir é melhor que isso. 
Aceitar as pessoas como elas são sem julgá-las faz parte do que a humanidade é e de seus inter-relacionamentos sociais. 
Se você não aprende a lidar com o tio chato que é um imbecil sem noção, a culpa é sua. Aprenda a lidar com pessoas e tire de letra. Tão mais fácil colocar a culpa nos outros não é?! 
Impossível haver só alegrias e felicidades em qualquer tipo de relação. Isso é contra a lógica da existência humana que é falha e imperfeita. 
Se entendem sem tempo mas não o dedicam a coisas efetivamente produtivas. Estão sem tempo pois não sabem focar. A não ser que seja em videogame e em coisas que gostam, tipo tablet e smartphone. 
Nunca tem tempo para nada, mas não se qualificam e também não produzem algo. Falam que estão tirando tempo para si, quando na verdade estão alimentando suas obesidades mentais com enlatados virtuais recheados de cultura inútil - mas que eles escolheram consumir gulosamente. 
Relacionamentos precisam durar sim. Ninguém é uma ilha e também não somos bonecos de estante. Somos pessoas e precisamos de pessoas que nos tratem com respeito e que tenham zelo pelos nossos sentimentos. Simplesmente consumir pessoas como se fossem produtos de prateleiras não dará certo em tempo algum. 
Causas sociais virtuais são bem legais e lindas, mas com o tempo essa nova geração aprenderá que não adianta mudar aquele negócio virtual que ninguém sabe direito mesmo se existe ou se o recurso realmente alcança o objetivo sem mudar primeiro sua família, sua casa, sua vila, seu bairro, sua cidade, seu país. 
Entendo que muitos paradigmas estão sendo quebrados com novas posturas de gente que nasceu em um mundo totalmente diferente. Entendo que essas pessoas precisam aprender a se relacionar com as pessoas que sempre estiveram e sempre estarão no mundo. 
Ou os humanos aprendem a conviver entre si, ou teremos em muito pouco tempo mais uma onda de guerras. Será um retrocesso evolutivo. O mundo é feito de pessoas e os novos PRECISAM aprender a se relacionar entendendo maduramente o que sentem. 
Enquanto a geração Facebook não passar por provações, certamente não forçará seu cérebro a entender o que é inteligência emocional. Afinal de contas ela só amadurece exercitando, e de nenhuma outra forma. 
E hoje eles fogem disso usando desculpas como quebra de protocolos sociais.


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 16.07.2016
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br