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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Homossexualismo

Sempre tive que aceitar o dia do orgulho gay. Pessoas que não me conhecem, classificam-me como preconceituoso. Não nego, possuo vários, e defendo que todos os têm, entretanto não sou discriminador. Entendo a importância histórica desse dia, desde a data inicial em Nova Iorque quando os homossexuais apanhavam e eram tratados como retardados e doentes mentais, até os dias atuais.

Essas classes definidas pela sociedade como homo, bi e heterossexualidade, são interessantes para orientação. O relacionamento homossexual foi rechaçado por muitas culturas ao longo da história da humanidade, rejeição esta, provocada de maneira mais radical pelo cristianismo com suas punições severas e o capitalismo.

Eu particularmente concordo com Castells que diz: "O patriarcalismo exige heterossexualidade compulsória. A civilização conforme é conhecida historicamente, é baseada em tabus e repressão sexual. Segundo Foucault, a sexualidade é construída socialmente. A regulamentação do desejo está subordinada às instituições sociais, canalizando assim a transgressão e organizando a dominação. Quando a epopéia da História é observada pelo lado oculto da experiência, nota-se a existência de uma espiral infinita entre o desejo, repressão, sublimação, transgressão e castigo, responsável em grande parte, pela paixão, realização e fracasso. Este sistema coerente de dominação, que liga as artérias do Estado à pulsação da libido pela maternidade, paternidade e família, tem seu ponto fraco: a premissa homossexual. Se essa premissa for questionada, todo o sistema desmorona: a relação entre o sexo controlado e a reprodução das espécies é posta em dúvida (...), solapando a coerência cultural das instituições dominadas pelos homens". (Castells, 2000)

Acredito que a proibição faz com que a curiosidade aumente. Considero opção sexual como uma opção e não como muitos defendem alegando que é inato. E digo mais, o atavismo tem papel fundamental.
A orientação sexual indica qual o gênero pelo qual uma pessoa se sente preferencialmente atraída física e/ou emocionalmente. E se há essa preferência e atração, e mais, se há hoje uma normalidade na cabeça dos jovens quanto a indiferença de gênero nos relacionamentos, há uma corroboração com a teoria de que orientados sofrem, sim, influência.
Essa influência em muitos casos acontece desde a gestação até os quatro ou cinco anos, quando a criança está formando sua personalidade. Os fatores são infinitos, desde pais que tem um filho homem e queria uma menina, irmão com personalidade muito forte, pai abusivo, etc. Essa opção quando acontece nessa fase, é inconsciente e por isso defendida como algo inato, o que eu considero o grande ponto fraco antropológico dessas análises.

Perseguir essas orientações sexuais ainda é uma constante exposta no trabalho, no lazer, nas escolas, em locais públicos, etc.. Homossexuais enfrentam, no Brasil, os homofóbicos e suas ideologias ainda muito vivas através da maculada mídia e sua violência simbólica, discriminação profissional, violência, repressão física, marginalidade social, entre tantas outras que denigrem a imagem destas como cidadãos comuns.
Percebo que a discriminação age mais agressivamente em homens do que em mulheres e, minha resposta para o motivo é o fato de que raramente mulheres querem ser, agir e vestir-se como homens. Sendo assim, a sociedade ignora a parte que as desconforta e aceita o resto. Ocorre porém que os homens que tentam ser, agir, vestir-se e portar-se como mulheres invariavelmente recebem o pesado fardo discriminatório.

Tenho um bom punhado de amigos que se consideram homofóbicos apenas com os que eles chamam de “afetados”. Os que, nas palavras deles, cacarejam, cortam os órgãos sexuais fora, se maquiam, fazem fiasco e querem ser o que não são. Então percebi que a grande maioria dos homofóbicos não tem de fato algo contra a opção sexual nem quanto a orientação sexual e sim contra a postura “afrescalhada” conforme o vocabulário ogro.

É tudo muito simples e muito claro para mim. Tenho amigos gays em Porto Alegre que são absolutamente tranquilos, bem resolvidos e que não sofrem discriminação, mas são inteligentes o suficiente a ponto de não precisarem ficar agredindo a sociedade com atitudes que a própria sociedade reprova. E isso, a menos que eu esteja muito errado, é a mais clara prova de civilidade e boas maneiras no convívio social.
Penso que se os homossexuais, agora em tempos de liberdade conquistada, agirem com maior respeito junto aos valores sociais comportamentais, essas besteiras de dia do orgulho gay e dia do orgulho hetero não serão mais necessárias.

Pais que concordam com o Bolsonaro se vêem como minorias e como impotentes numa sociedade onde todos defendem os gays e sua liberdade de expressão, e defendem a proibição da discriminação. Ou seja, na cabeça dos "bolssonaristas", os homossexuais estão agredindo a sociedade e amarrando as mãos dos que pretendiam contrariar, visto que se o fizerem serão classificados como discriminadores. E constitucionalmente falando, eles teriam o direito do dia do orgulho hétero também.
Esse nicho procura uma forma de mostrar que ser hetero também está certo e de poder defender esse ponto de vista e orientar seus filhos sem que sejam crucificados. E se a sociedade continuar discriminando esse tipo de gente, desrespeitando e agredindo, estará agindo exatamente como a policia fez em 1969 com os gays e abrindo a chance para o dia do orgulho hétero. Homossexuais que aceitam a sociedade como é, não pensam em agredi-la, pelo contrário, a respeitam e vivem muito bem. A ideia é tirar o privilégio de ser radical que os homossexuais atualmente possuem, e não devolver aos heteros, tornando a sociedade HOMOgênea. Respeito nunca sai de moda.


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 04.02.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Escrito por:  @rjzucco