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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Odeio desistir!




Odeio é uma das palavras que menos costumo proferir. Praticamente extinta do meu vocabulário. Inclusive sempre que vejo alguém a utilizando, aconselho não fazê-lo pois carrega consigo uma carga negativa extremamente pesada.
Como bom descendente de alemães e italianos, confesso sem cerimônia que sou um “pouquinho” teimoso, afinal de contas teimoso mesmo é quem teima comigo.
Pois com essas características, habituei-me a concluir todos meus projetos de vida. Quando início algo, vou até o fim. Dou um jeito, articulo, flexibilizo, penso em alternativas, mas nunca desisto. Desistir, na minha opinião é fracassar, e se entro em algo, obviamente é para ganhar.
Ninguém em sã consciência entra em algum tipo de desafio pensando em perder.
Investir tempo, energia, pensamento, dedicação, atenção, envolver pessoas, investir dinheiro em algo e ter que desistir, consome comigo. Fico mal. Fico triste!
Percebo que a maioria das pessoas não se preocupa, sobretudo a nova geração, em virar as costas para algo ou alguém. Já citei aqui, inclusive falando sobre o desapego.
Isso tem muitos pontos negativos. Hoje possuímos um mar de gente que não está nem aí para o comprometimento e para responsabilidade. São pessoas que estão “curtindo” a vida. Gente que quando não quer mais, larga e vai fazer outra coisa.
Só que o mundo não para até que as pessoas amadureçam e decidam brincar de ser adultas. Enquanto isso, os que estão como adultos veem e catalogam...
Gente sem garra, sem persistência, incapaz de levar algo adiante por causa de alguma dificuldade ou contratempo, é descartada pelos players - os competentes - assim como as novas gerações descartam o que não lhes serve mais, sem cerimônia.
É mais ou menos uma vingança do mercado com a má postura inicial desses jovens de hoje.
Mas isso não se resume apenas aos mais novos. Tem muita gente com experiência que não quer saber e vira as costas para os desafios, por não estar disposto a enfrentar as dificuldades.
Justamente esses desafios que me deixam vivo. Sou um inveterado apaixonado por causas impossíveis (e quem não é?!), embora isso seja contraditório, eu sei. Afinal de contas, ser obstinado por algo impossível não faz sentido para a maioria das pessoas. Só quem sabe brigar entende que quanto maior o desafio, maior a vitória. Quanto mais preparado e difícil for o adversário, mais precisará de treino e mais terá que se esforçar, superar-se e ser melhor. E quando há a conquista... ah essa vale a pena!
Mas voltando a falar em desistir. Treinar muito, preparar-me, pensar, sentir, viver, dedicar-me a algo, visualizar realizado, concretizar mentalmente, e depois ter que desistir, entristece-me profundamente. Como um dia inteiro de chuva!
Reluto, repenso, reavalio, procuro outra forma, às vezes rastejo e me humilho para não ter que desistir de um objetivo, que quando alcançado, compensa qualquer esforço.
Entretanto infelizmente em algumas situações não há o que fazer. Não há escolhas ou alternativas. Não há volta. Desistir é a única opção. Os humanos possuem vocação para limitar suas possibilidades e enclausurar quem precisa decidir. E desistir me frustra, mesmo que seja a única opção.
Entristeço-me mais ao desistir de pessoas do que quando desisto de projetos, pois pessoas são agentes vivos e retroalimentadores.
Se houver qualquer alternativa que seja, não desista. Desistir é para fracos e amadores. Enquanto ainda tiver condições, tente. E quando desistir, desista de vez! Quando tomar finalmente a decisão, pense bem, decida e não volte atrás. Faz parte de ser maduro.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 06.12.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Para abraçar?!

Tem uma menininha chamada Raissa que possui uma doença raríssima e não pode abraçar. Imagino como deve estar sendo ruim para a família dela. Muito legal ver a movimentação das pessoas para angariar fundos para o tratamento.
São empresas, palestrantes, universidades, entidades de classe e mais um monte de gente trabalhando em prol das arrecadações de fundos para custear o tratamento - que diga-se de passagem não é garantido, é experimental - para que a criança consiga abraçar as pessoas.
Honestamente acho o máximo essa união e movimentação das pessoas que abraçaram a causa e a dor da situação, mas... pasmem! A quantia de dinheiro levantada para tratar apenas uma criança, fora do Brasil, e ainda sem garantias de sucesso é absurda. Entendo até como ofensivo.
Não vejo a comunidade reunida para falar sobre os votos da última eleição e como cobrar seus representantes por um sistema de saúde melhor. Também não os vejo articulando por maior investimento em educação. Ou pior, não vejo todo esse furor e boa vontade para angariar fundos para comprar comida a quem morre de fome todos os dias.
Será que ninguém parou para pensar a respeito disso? Que esse dinheiro todo poderia ser melhor direcionado de forma a abranger mais pessoas, ajudar mais gente e resolver mais problemas de uma vez só ao invés de ficar tentando salvar uma causa semi perdida?
Eu sei que faz parte dos humanos apaixonarem-se por uma boa causa perdida, mas então que seja com algo que possa “abraçar” muito mais gente e que tenha resultado garantido.
Não faz sentido direcionar tanto dinheiro para alguém que pode não sobreviver, sendo que muito mais pessoas poderiam se beneficiar desses recursos. E veja, estou sendo prático, afinal de contas nenhuma decisão importante deve ser tomada com emoção.
Não, eu não sou um monstro desalmado e sem coração. Eu me preocupo com a Raíssa, sou empático com sua família, tento me colocar no lugar e entender a situação, mas alguém precisa fazer o papel de enxergar todo o cenário e mostrar as pessoas que talvez não estejam direcionando seus esforços da melhor maneira.
É cruel com a menina querer abandoná-la? Sim e não. Sim se formos egoístas e pensarmos só nela, mas não se formos práticos e pensarmos em todas as outras pessoas que, assim como ela, precisam muito ser assistidas e não tem a menor condição.
Em alguns países, certas doenças terminais (como câncer) não são assistidas como aqui, eles subsidiam acompanhamento psicológico para o enfermo e seus familiares a fim de não ocupar a máquina pública com causas perdidas e abreviar o sofrimento do paciente e dos seus, proporcionando assim que outras pessoas com condições de melhora possam receber atendimento.
Reforço. Não sou contra a campanha dela. Meu intuito aqui é apenas trazer a discussão uma outra visão a respeito de algo que, pelo que tenho percebido – ou melhor, não tenho percebido – as pessoas não se atentaram.
Na prática seria mais ou menos como se o governo disponibilizasse atendimento apenas para pessoas com determinada doença por não ter dinheiro para atender a todos. Onde fica a justiça com os demais?
Certamente virão alguns argumentar que os outros poderiam ter feito o mesmo movimento e tentado angariar fundos também. E de fato poderiam! Assim como as pessoas que recebem bolsa e recusam empregos poderiam trabalhar ao invés de ficar em casa. Poderiam! Mas a vida não funciona tão logicamente assim, e por isso existem esses movimentos sociais.
Eu os entendo como uma forma de manifestação ativa contra a omissão do Estado em relação a coisas que deveriam ser por ele providas e não são.
Então entendo que cabe a nós, enquanto sociedade, cobrar nossos representantes, eleitos ou natos no meio em que vivemos, uma política e raciocínio menos específico e mais generalista. Só assim conseguiremos alinhar essa torta e podre matemática financeira que existe entre pessoas, políticos e Estado.
Boa sorte Raíssa. E se dependesse de mim, esse dinheiro ia para o lar da menina e do menino, na pior das hipóteses, e na melhor em projetos de melhoria na educação.
Parabéns aos pais da menina que conseguiram articular e mover mundos e fundos para ajuda-la. Eles são exemplo do que força de vontade pode fazer.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 29.11.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br