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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Se eu me visse do passado



Quando eu era criança pensava em muitas coisas. Queria ser gaúcho, milico e doutor - e por doutor entendam médico e não doutor com doutorado.
Queria uma namorada legal e bonita (não necessariamente nessa mesma ordem). Queria ter dinheiro, ser bonitão, ter cabelo comprido, toda a coleção dos comandos em ação e uma bicicleta especial. Queria ter muitos amigos e, sobretudo, ser bem sucedido em tudo que eu fizesse. Queria este último em particular, mas sem essa clareza que tenho hoje.
Tinha, como toda criança tem, algumas referências. Os “modelos de sucesso”. Como meu irmão, que tinha sempre as namoradas mais legais e gatas, meu padrinho bem sucedido, meu vizinho com sua bicicleta incrível...
Hoje eu fico pensando... E se por acaso eu pudesse olhar por alguma janela do tempo e, enquanto criança, vislumbrar meu futuro?
E se pudesse ver aos 5, 8 ou 10 anos o que me tornei hoje, como sou, como construí minha vida?
Como será que eu reagiria? O que sentiria? Pena? Vergonha? Orgulho?
Será que eu ficaria ansioso por chegar de uma vez nesse futuro e ser quem hoje sou? Será que ia gostar da pessoa que me tornei, mesmo sem cabelos e muitas outras coisas que, na minha visão infante, eram indispensáveis?
Pois hoje, exatamente hoje, eu tenho essa resposta. Eu pensaria algo do tipo: “Bãããi que linda minha namorada! Que massa o relacionamento que terei com ela! Que tri meu trabalho, minha função, minha empresa e meus amigos!!! Cadê meu cachorro? Não tenho um carrão? Não sou rico? Cadê meus cabeeelooos?”
Mas, certamente ia querer sair falando para todo mundo o que/quem eu havia me tornado, com o peito estufado e muito orgulho. Possivelmente até fosse levar mais a sério o colégio e o resto das coisas.
Mas essa não é a grande reflexão que trago hoje. Meu objetivo com esse texto é lhe provocar a pensar em como você acredita que se enxergaria hoje se estivesse se vendo do passado. O que acha que pensaria?
Eu explico o motivo do questionamento. Se o que você se tornou não causa orgulho, vontade, emoção e desejo no seu eu de infância, muito provavelmente você não é o que ou quem deveria ser, e ainda há tempo (sempre há) para mudar o rumo de sua vida, radical ou parcialmente e buscar novos caminhos.
Desenvolver um novo futuro para que ao menos daqui algumas décadas, quando puder fazer a mesma reflexão, entenda que seu eu de hoje ao olhar para o futuro verá alguém que ele quer ser e por quem valha a pena dedicar anos, noites, tempo e vida.
Pense em quem você é, pense em quem queria ser quando era novo, e pense principalmente em quem você quer ser, pois assim, quando estiver deitado em um sofá no colo de alguém que quer bem, possa respirar fundo e pensar: “era isso mesmo o que eu queria!”.
Quando estiver assando uma carne com os amigos e falando besteira, possa olhar para todo o cenário e saber com a alma lavada que isso é a colheita de um bom semeio.
Para quando estiver curtindo um final de semana com a companhia mais especial, saiba que foi por mérito e que é exatamente ali e assim que queria estar, e sentir-se feliz com isso, valorizando o momento.
Que entenda que está fazendo o seu papel para melhorar o mundo, gerando empregos (ou não), transformando sua sociedade com exemplos e atitudes e legando ao universo algo que realmente fará a diferença, mesmo que ridiculamente pequena.

Para que, se por um milagre o seu eu criança o veja hoje, fique com os olhos marejados de felicidade, e conte os dias para chegar finalmente nesse déjá vu.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 29.08.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br