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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

“Tem que matar esse cara!”


 
Essa foi a frase que li nos comentários do face ao ver um vídeo em que um homem espancava um cachorro até a morte.
Não foi o único caso em que vi, ouvi ou li manifestações desse tipo.
É um ódio tão pujante que ultrapassa a sanidade.
Hoje, se alguém faz algo que uma pessoa não concorde, o discordante se acha no direito de vomitar toda sua ira sobre o primeiro.
Pense bem na incoerência. Alguém matou um cachorro, então eu posso matar alguém. Então eu posso espancar, surrar, escaldar em água fervente, deitar em um formigueiro...
Com o cachorro não pode fazer, mas com meu semelhante, um ser humano pode. Independente se ele é “humano” ou não.
Eu fico estarrecido com a falta de coerência dos humanos. Alguém faz mal para um bicho então merece sofrer todos os tipos de torturas imagináveis. Ou seja, com um animal não pode, mas com um semelhante deve.
Ah mas ele fez por merecer. Ele fez o mal a um animal conscientemente então merece receber um belo castigo. Será? Então já que ele fez algo horrível com um bicho podemos justificadamente fazer o mesmo ou pior com ele?
E seguindo essa lógica, será que o bicho não havia feito também algo horrível antes que justificasse as ações de seu algoz?
Mas é diferente, o bicho é irracional.
Então racional é você que pretende descarregar esse monte de raiva acumulada em alguém que fez algo que você não concorda? E não estou nem entrando no mérito de se está errado ou não.
Vejo pessoas com discursos de ódio tão profundo e insanos que nem parecem seres que convivem em sociedade.
As vezes alguém posta algo contra um político ou contra uma causa e vem uma enxurrada de gente metralhando vômito nos comentários.
Basta haver divergência e há os inflamados discursos “talianeses”.
Gente querendo fazer justiça com as próprias mãos. Gente que não acredita mais em justiça pública. Gente cansada de sofrer quieta. Independente, gente ignorante.
Então quando um assaltante é filmado sendo pego no flagra e apanhando, todo mundo fala que o cara tinha que morrer (pena de morte é aceita finalmente então? E olha que sou a favor hein?!), que tinham que cortar os órgãos sexuais dele, amputar as mãos, furar o olho...
Só eu entendo que isso é lei de Talião e que é uma forte incitação a voltarmos aos tempos dos bárbaros onde os mais fortes mandavam e os mais fracos eram obrigados a obedecer? Onde apenas quando grupos se uniram para espancar a minoria forte opressora que iniciou-se o diálogo?
Diálogo, você ainda sabe o que é isso?
Hoje não se discute mais. Se duas pessoas divergem em algo profundamente, elas não conseguem chegar em um consenso mesmo em sua divergência e continuar se dando bem e conversando numa boa. Elas cortam relações.
Tem gente que para de se falar por política, por futebol... Tem gente que para de se falar por uma discussão sobre a novela, pasmem!
Se a situação continuar nesse ritmo, não tardará a nos desentendermos generalizadamente de forma a ninguém conseguir (ou poder) discordar de outrem sob pena de linchamento ou mesmo desqualificação verbal e massiva.
Está na hora de todo mundo pensar mais antes de escrever. Parar de emitir opiniões com o resíduo do que sai após uma boa seção de evacuação intestinal.
Muitas coisas nos irritam sim e isso faz parte, entretanto não nos dá o direito sequer de pensar em agredirmos outras pessoas. Isso não é civilidade.
Por favor, mais cérebro e dedos ao escrever e menos músculos e estrume.
Precisamos aplicar mais o triplo filtro de Sócrates em nossos dias.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 16.01.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br