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quarta-feira, 16 de março de 2011

Paixão


Já citei em outro post como acho a paixão adequadamente similar a um fenômeno da natureza. Mas pense um pouco a respeito. Quantas pessoas que você conhece já deram a definição perfeita? Todos acertam, todos têm a resposta, mas em nenhuma é completa. Não é completa talvez para você, mas para quem disse, é.
Acho bem curioso como todos têm conceitos diferentes de uma característica comum. As definições e opiniões obviamente estão atreladas a experiências anteriores. Seria a base onde se sustentam os argumentos. A minha definição, assim com o a dos demais, é peculiar e sustentada em minhas experiências de vida. Segue:
Paixão está atrelada a ousadia, atrevimento. Sentir as coisas de forma acelerada e diferente. Imagino a paixão como uma piscina gelada em dia quente onde quando se mergulha, sente-se a agua envolver o corpo todo, sente-se absolutamente tudo, dos dedos aos cabelos, o coração bate mais rápido, o sangue corre veloz nas veias, os pelos eriçam-se. O chão não está ali, tudo é leve e os movimentos do mergulho lembram a flutuação.
Mas além desse turbilhão de sensações causadas no corpo, há as implicações químicas. E essas são as que me fazem precisar de uma paixão para seguir adiante. Para viver. Preciso estar permanentemente apaixonado por algo, ou por alguém. Pode ser um trabalho, um desafio ou uma pessoa especial.
Sem paixão, não ouso, não me atrevo, e a falta de atrevimento e ousadia é uma das maiores falhas das pessoas. Apaixonado, acordo feliz, durmo pouco, sonho muito, passo o dia lépido, sinto os cheiros de tudo de forma mais tenaz, chego a, acreditem, sentir o cheiro de um perfume a mais de duas quadras de distância e sei exatamente quem está usando.
Sinto o sabor das coisas acentuadamente. Como um gole de chai. Muitos sabores, todos ao mesmo tempo, gerando a confusão mental do que é o que. Mesma confusão causada pela adrenalina que corre no sangue.
Confusão, nervosismo, felicidade, atrevimento, insegurança. Gosto de adrenalina na garganta, boca seca, insônia. Olhar para o celular o tempo inteiro aguardando um retorno, um sms, um sinal de vida.
A paixão, diferente do amor, é invasiva. A vontade de estar sempre junto de quem se está apaixonado, de sentir a pele, o cheiro, de tocar, beijar, lamber, morder. É uma necessidade estranha como se quiséssemos entrar dentro da pessoa, fazer parte dela. Dominar os pensamentos e mais, tomar conta da cabeça, fazer uma bagunça e continuar atordoando.
É andar de montanha russa, com todas as piruetas, os altos e baixos, o medo e o perigo, a incerteza. É viver a vida com intensidade, sem medo de se arrepender. Dar a cara à tapa, aproveitar os momentos. Curtir.
Paixão é falar dos sentimentos, mas acima de tudo, vive-los, senti-los. É vontade de viajar e mostrar os lugares de que gosta, conhecer lugares novos, finalmente ir aos pontos que sempre teve vontade, mas que faltava a companhia especial. Olhar pro céu e achar lindo, seja com lua, com estrelas, com nuvens ou relâmpagos. Molhar-se na chuva. Olhar nos olhos e enxergar exatamente o que se quer. Andar bobo, com sorriso aberto, sem qualquer motivo, e com todos os motivos. Perder turnos inteiros, dias, horas, semanas, meses; sem notar, sem se preocupar.
É desejo, lascívia, gula, gana, falta de comportamento, cavalo sem rédeas. Imprevisto, surpresa, instigação, desafio. Medo de gostar, ciência de que não deve ser feito. Tentação do proibido. Avanço de sinais.
É aquela musica que com toda a mágica e sem autorização, mete os dois pés na porta e te abduz para um momento especial da memória. Indiscutível, único, e pertencente apenas àquela paixão. Rezar como um xiita para que o telefone toque. Meio sorriso no rosto que denuncia momentos especiais. Lembranças sem preço.
Paixão é ter vontade de espalhar aos quatro cantos, deixar todos saberem, gritar, se exibir, mostrar. É sexo, volúpia.

E pra você, o que é paixão?

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 16.02.2013
Editado/corrigido por Thiago Severgnini
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br