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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Romantismo

No meio de uma conversa ouvi alguém dizer que o problema dos relacionamentos atuais é a falta de romantismo. Esta é uma falácia recorrente das pessoas, que na verdade são ignorantes.
Calma, vou explicar!
As pessoas ignoram todo o contexto social que as cerca e nem sequer percebem que o romantismo está aí sim e de uma forma tão contundente quanto no tempo de nossos avós e pais. Vejam que as flores continuam, os elogios existem e agora utilizamos de meios virutais para tecer algum comentário aprazível. As demonstrações de carinho não mais se restringem a gestos de etiqueta ensaiados, nem a verbalização. Utilizamos agora tantas formas de expressar nosso carinho e sentimentos que não estamos mais presos aos dogmas do passado.
Mas sim, há uma tendência de algumas pessoas de quererem relacionamentos gatos, e neste caso o romantismo falta. Mas no restante, em relacionamentos onde o sentimento impera, o romantismo não cessa.
Ocorre que quem quer se envolver e quer contato com pessoas românticas, peca na atitude. Pessoas românticas normalmente tendem a não ser agressivas, e isso inclui uma abordagem em uma festa, ou uma investida, sempre sutis. Então, como alguém que procura romantismo e que não o percebe nos outros todos os dias, perceberia isso numa sutileza quotidiana?
Para percebermos o romantismo, precisamos dar a oportunidade, precisamos ter atitude e até atrevimento as vezes, instigar, fomentar, permitir. Importante salientar que o romantismo costuma se manifestar em momentos de segurança e tranquilidade/paz. Complicado ser romântico sem intimidade, sem conhecer o outro adequadamente, sem ter uma base.
Quem me conhece mais profundamente diz que eu sou a maior fraude que existe, que tento vender uma imagem de cachorro, e que faço isso muito bem, até que a pessoa me conheça e perceba que eu sou o cara mais apaixonadamente romântico, de forma shakespeariana e com toda a dramaturgia que isso possa agregar. Não faço sexo sem envolvimento e as vezes em que fiz, fiquei procurando desesperadamente o botão eject na cama. Sexo pelo sexo, pra mim, é tão sem sentido quanto as palavras sem o pragmatismo ou um cantinho para urinar em uma piscina.
Bom, eles entendem hoje, que tiveram que dar a oportunidade de eu me mostrar como realmente sou, de me conhecerem, para então poderem ver o que é o verdadeiro romântico que existe dentro de mim. E da mesma forma ocorre com todos os “humanos”, que precisam da oportunidade e do incentivo para que consigam expressar sua essência verdadeira.
Infelizmente, muita gente vê o romantismo como fraqueza, e aproveita para tirar alguma vantagem ou até mesmo apenas machucar. Isso faz com que a maioria dos românticos não se mostrem a qualquer pessoa ou momento, necessitando de uma configuração situacional mínima para a manifestação.
Mas creiam, eles estão entre nós. Nós estamos entre vcs.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 11.02.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Ilustrado por: Andrey Pietrowski
Escrito por:  @rjzucco

Amizade

Estava conversando com uma amiga a respeito da amizade e de como isso é importante. Já pararam pra pensar que a amizade é um relacionamento, mas de certa forma mais evoluído?
Com amigos, pode-se ser o tempo inteiro absolutamente natural, não é necessária a troca tradicional de um relacionamento.
Num relacionamento, as pessoas dão e recebem, e devido a constante troca, e também pela forma como a sociedade nos educa, nos acostumamos a esse recebimento, logo, estamos sempre esperando algo a mais, como exclusividade, atenção diferenciada, mais tempo juntos, preenchimento de satisfações gerais como sexual, física, presentes, etc. Chegamos a ser egoístas e a querer coisas apenas para nós e que eventualmente nem para outras pessoas são disponibilizadas.
Mas repare que numa amizade, temos essa atenção diferenciada, sem as cobranças tradicionais do relacionamento. A pessoa, pode ter muitos outros amigos, pode ser de qualquer sexo, pode ser bonita ou feia, não precisa se enquadrar nos nossos padrões de “qualidade” ou beleza, e ainda assim estaremos muito tempo juntos, trocando todas (ou quase) as experiências que um relacionamento normal trocaria. O silêncio não incomoda, a companhia para fazer qualquer besteira é sempre divertida, e se enjoamos da cara da outra, paramos de ver por um tempo sem que precise-se ter uma “DR” ou rompimento.
O mais curioso é a capacidade dos amigos de nos fazerem sentir tão bem quanto um namoro. Tudo bem, em casos de paixões, o torpor químico liberado pelo cérebro, não é comparável a qualquer experiência com amigos, mas a alegria, satisfação e paz proporcionada por uma amizade profunda e sincera, também são comparadas e alcançadas por poucas coisas da vida.
Outra coisa importante a se ressaltar é que os relacionamentos modernos, são relacionamentos gatos além da irritante possessividade, e isso corrobora com a ideia de que a amizade está levando vantagem hoje em dia.
A grande dica é valorizar os amigos dando a todos a real importância que tem em nossa vida. Exponha, verbalize, coloque para fora, faça-os saber como pensa e o que sente a seu respeito. Acarretará um acréscimo positivo incomparável as suas relações. Sem contar que os amigos são um bom caminho para o autoconhecimento.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 31.12.2011
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Escrito por:  @rjzucco

Relacionamentos Gatos



Já repararam como os gatos são independentes? Pois é, mas eles são um pouco mais do que isso, eles são egoístas. Vamos fazer uma breve comparação dos gatos, com cachorros e com relacionamentos.
Um gato, não dá carinho, ele pede, e após saciada sua vontade, ele sai. Experimente deixá-lo sem comida para ver se o amor permanece ou se ele irá para outra residência. Experimente tirar o conforto, dar alguma função permanente e chata. O cachorro, troca carinho e cumplicidade, morre de fome ao seu lado mas não lhe abandona, dorme na rua e passa frio contigo se preciso for, mas estará sempre ao seu lado, não lhe abandonará.  O gato expressa interesse no olhar, o cachorro, entrega.
Nos dias atuais as pessoas estão cada vez mais buscando relacionamentos gatos, onde haja apenas um pseudo-envolvimento, algo extremamente superficial onde não há real entrega nem apego e possa-se largar e abandonar tudo ao primeiro sinal de insatisfação, dificuldade ou melhor oportunidade.
As pessoas buscam se relacionar sem apego, com um botão de eject já prontinho para ser ativado ao primeiro rascunho de insatisfação. Onde está a determinação? A força de vontade? A teimosa insistência decorrente dos amores fervorosos de antigamente? De onde vem essa frieza e qual o sentido disso?
As pessoas tem medo de se envolver, de se machucar, de se expor, e por isso acabam evitando um relacionamento mais honesto e sincero. Acham cansativo e complicado demais ter algo nos padrões tradicionais e preferem então a facilidade da superficialidade a complexidade do tradicionalismo.
Meu conselho? Tenham relacionamentos cachorros, entreguem-se, sejam fiéis, nem que seja a sua maneira (ver Teoria da Fidelidade e Teoria da Batata Frita), mas sintam, tentem, deem a oportunidade e se fracassarem, recomecem tudo de novo, pois todo e qualquer instante vivido nesse processo tem valor inestimável e lhe acompanhará por toda a vida e servirá de parâmetro em relacionamentos futuros. Mas jamais desistam ou hesitem por medo de fracassar, pois parafraseando Veríssimo “Embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu!”
“Quase
Ainda pior que a convicção do não,
é a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda,
que me entristece,
que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no
outono.

Pergunto-me, às vezes,
o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância e na frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima,
o amor enlouquece,
o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.
Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,
o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina,
não inspira,
não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio
que cada um traz dentro de si.

Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão,
para os fracassos, chance,
para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando...
Fazendo que planejando...
Vivendo que esperando...
Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.

Luís Fernando Veríssimo

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 21.01.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Ilustrado por: Andrey  Pietrowski
Escrito por:  @rjzucco