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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O novo e o velho mundo

Trabalhei no Terra, na Dell, no Matone, e essa experiência em “call centers” me propicia hoje fazer coisas que muita gente considera impossível. Eu atendia seis clientes ao mesmo tempo via chat, enquanto falava com mais um pelo telefone e respondia um dos 150 e-mails que precisavam ser respondidos, ainda no mesmo dia. Em outra empresa, tinham dois telefones e dois monitores, e conseguia falar com duas pessoas diferentes, sobre assuntos diferentes, ao mesmo tempo, enquanto monitorava duas telas e ainda passava orientações para uma colega. Também cheguei a monitorar cinco andares, com uma média de 1200 pessoas por andar para saber escala, absenteísmo, nível de serviço de atendimento, etc.
Hoje, estava conversando com uma amiga que me disse que, se ela vai a um bar com amigas ou quem quer que seja, e alguém da mesa dá atenção ao celular, ela levanta e vai embora, pois considera inadmissível que as pessoas sentem para confraternizar e interagir, quando, na verdade, acabam interagindo com outras.
Confesso que isso me incomodou. Eu me sinto como num limbo etário, visto que não me encaixo completamente na “geração X”, entretanto tenho muitas características dela, e também não me encaixo, totalmente na “Y”, apesar de, também, ter muitas características desta.
Se eu saio com uma turma e converso ao celular, é porque sei que consigo fazer tudo ao mesmo tempo, além do que meu perfil (“tipo 7” para quem entende) demanda que eu interaja com vários grupos e de várias formas, tudo ao mesmo tempo. Além disso, eu nunca prometi exclusividade de minha atenção a qualquer amigo. Ninguém promete!
Pode acontecer de saírem, sentarem em um bar, e uma amiga conhecer um cara bonitão em outra mesa e dar atenção só para ele. E daí? Levanta e vai embora?
Sei lá! Essas pessoas que são resistentes a conviver com quem utiliza o mundo virtual e o mundo real concomitantemente são, além de carentes, egoístas. Acham que apenas um dos mundos deva ser acessado por vez. Não admitem a nova realidade multifunção e multitarefa - agora multi-mundo também.
Lembrei de quando era novo, e tentavam criar patologias para crianças e adolescentes que ficavam muito tempo em frente ao computador. Pensei, também, na geração do meu pai, quando as pessoas ignorantes (no bom sentido) acreditavam que o conhecimento que tinham era suficiente. “Fazer faculdade pra que? Os dotorzinho não entendem nada da vida. Na prática é tudo diferente”.
Hoje, ninguém, nas suas condições mentais plenas, concebe a falta de graduação, quando há oportunidade. Ou seja, os tempos mudaram e os conceitos com ele. E isso sempre vai acontecer. A sociedade adapta-se. Tudo está sempre em uma mutação constante. É preciso que estejamos prontos para encarar as novidades que as novas gerações trazem e que os tempos atuais demandam.
Ficar enclausurado, em um pensamento que se considera certo, calcado em valores outrora seguramente corretos, não, necessariamente hoje, seja bom.
Qual o problema em aceitar que as interações mudaram, a sociedade mudou, as pessoas mudaram e que é necessário adaptar-se? O que se ganha fechando-se no que se acha que é certo e indo de encontro ao coletivo? Por que não flexibilizar e até mesmo aderir aos novos comportamentos?
Ficar preso a conceitos antigos com a dinâmica atual é visto, por mim, como uma afronta social. O mesmo que discriminar a todos.
No fim das contas, todo mundo perde. Quem está no celular “surfando” na nova “onda” tecnológica perde uma amiga, a amiga perde uma pessoa legal e cada vez mais vai restringindo seu círculo entre poucos que, subservientemente, sujeitam-se às regras melancólicas de alguém que age, tiranamente, dentro nele.
O mundo é muito mais próspero e amistoso, quando aceitamos as mudanças. Adapte-se, ou veja a realidade lhe oprimir!

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 15.11.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br