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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Agora não mudo mais!






A quantidade de vezes que já ouvi essa expressão não está no gibi. Principalmente, mas não somente, do pessoal mais velho. Lembro-me claramente quando ouvi certa vez uma pessoa muito próxima a mim dizer que era velho demais para mudar.
Falou com certo sorriso no rosto, uma resiliência gratificada, como se tivesse orgulho daquilo. Só que era algo muito errado. Dessas manias antigas que insistem em passar de geração para geração e que hoje todos sabemos ser errado, mas que para algumas pessoas é mais fácil manter. Um exemplo: antigamente algumas pessoas mais dotadas de dinheiro e/ou poder viravam as costas aos seus interlocutores quando não lhes interessava mais a conversa, deixando-os falar sozinhos.
Se pedíssemos para qualquer um deles mudarem esse hábito hoje, repetiriam o título do texto.
E foi numa dessas conversas que um dia um colega de aula me disse que eu nunca mais mudaria minha letra. Eu estava no segundo ano do segundo grau e não me conformei. Comprei cadernos de caligrafia e treinei, treinei muito. Em menos de um ano tinha mudado completamente minha escrita, que segundo alguns é um dos traços mais característicos de cada pessoa.
Dizem até que se consegue mudar a letra, muda-se personalidade e todo o resto. Bom, quanto à primeira parte atesto que é possível sim.
Ainda assim muita gente falaria: “ah mas você era novo e daí fica fácil, quem é mais velho não consegue!”
Para quem pensa assim asseguro que estão errados. Quantas pessoas aprendem a amar depois da terceira idade? Quantas aprendem a escrever? Quantas mudam sua vida e maneira de agir em consequência de algum acontecimento?
E não me venha dizer que são exceções. O que ocorre é que quanto mais velhas as pessoas vão ficando, mais elas se sentem no direito de acomodarem-se e de não mudar. O mundo que se adapte e lhes aceite pois, na cabeça deles, já fizeram muito e agora os outros é que devem dobrar-se.
Aprender etiqueta? Agora? Para que? Ou então: “não sei mexer nessas coisas de smartphone e internet, e nem vou aprender, sou velho demais para isso”.
Olha, meu pai tem 81 anos, acessa Facebook, verifica e-mails toda semana, usa celular para bater fotos, grava vídeos do youtube, grava seus dvds, tem Skype, digita seus textos no Word e aprendeu tudo depois dos 70.
Por que ele fez e muitos não fazem? Simplesmente porque havia algo nesse aprendizado que traria algum tipo de recompensa.
Vou dar o exemplo mais clássico de todos e se aplica a qualquer pessoa de qualquer raça, sexo, idade, religião ou o que for.
Imagine que essa pessoa a qual alega que não muda mais, ganhe na megasena de final de ano ultra acumulada com 5 BIlhões de reais. Eu disse bi e não milhões. Você acha realmente que essa pessoa continuaria fazendo exatamente tudo que vinha fazendo? Não viajaria mais do que sempre fez, ou compraria coisas que queria comprar, mas que não podia?
Absolutamente ninguém permaneceria na mesma rotina depois desse tipo de mudança. E ainda tem gente que vem e me diz ser velho demais para mudar?
O que existe é gente preguiçosa demais, acomodada demais, confortável demais, e desrespeitosa demais, isso sim.
Se todas essas pessoas que resilientemente aceitam sua condição “ostracística” soubessem o atraso que provocam para a sociedade e o meio em que vivem, certamente ou tomariam vergonha na cara e assumiriam uma atitude positiva, ou privariam o todo de sua convivência negativamente contagiosa.
Para todos que estão sempre melhorando, mudando e que não se conformam com a mediocridade, deixo os meus parabéns. Vocês são as maravilhosas metamorfoses ambulantes que asseguram o progresso e a evolução.


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 03.05.2014
Revisado por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br