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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Companhia empreendida






Final de semana desses comentei sobre um utensílio doméstico e minha falta de experiência para adquiri-lo. 
Entre os comentários, um estimado amigo que muito respeito e prezo aconselhou-me a encontrar companhia, pois a solteirice não faz bem. 
Pensei um momento a respeito e respondi que adotaria uma guaipequinha. 
Brincadeiras à parte, aquilo me deixou pensando muito. Avaliei algumas decisões e seus respectivos desmembramentos. 
Não é fácil empreender, ao contrário do que muita gente pensa. 
Não é apenas abrir um ponto e sair vendendo. Há muitas escolhas a se efetuar. Há que se abrir mão de muita coisa. 
Paz? Isso não pertence por muito tempo a quem resolve enveredar por esse caminho. Há muita preocupação, muito trabalho, pouco sono, pouco descanso, muitos problemas e pouco dinheiro. Por muito, muito tempo. 
Quem não adoece antes, ou quebra, ou vinga, ou segue cambaleando até adoecer. 
É definitivamente agitado. Muita ação, muitas decisões, muitas opções de caminhos, e consequentemente muitos finais possíveis. 
É necessário entender de tudo um pouco. Economia, política, geopolítica, finanças, estratégias de mercado, vendas, planejamento, técnicas de vendas, estratégico, técnicas de negociação, neurolinguística, comportamento humano, interação social, pessoal e virtual, network, marketing, coaching, mentoring, 
RH, etc. 
Nunca pode parar de se atualizar, é necessário estar permanentemente lendo, aprendendo e fazendo cursos. Como se para viver estivéssemos ligados por aparelhos, e eles fossem a informação quente. 
Conversei com alguns amigos a respeito e eles me deram um veredito preocupante e entristecedor, mas que deixa nós, empreendedores/sonhadores, orgulhosos. 
Não há conversa comum conosco, via de regra. Misturamos política com banalidade. Música com comida e etc. 
Se alguém está afim desses seres estranhos que empreendem como profissão, ou "persipíca", ou fica para trás. Tem q ser perspicaz! 
É preciso estar ligado no 330, o que é trivial não importa. Leitura fácil é morna e aborrece. Os sinais falam mais do que o explícito. 
Clareza é para fracos, aprenda a ler as entrelinhas. 
O paraíso passa antes pelo inferno e o inferno será um paraíso. Tão quente quanto possa dentro de nuvens, de vapor. 
Navegar em aguas calmas não é desse ramo, e quem gosta, não aporta nessa praia pois ninguém é totalmente lúcido ou ajuizado. 
Sabe aquela história de incansável? Pois é... Multiplica e eleva na geométrica. 
Atitude até demais. Enquanto muita gente teoriza, essa raça faz, e faz mesmo. Não pode ficar filosofando sobre o ovo ou a gal... O cheiro está bom, quero provar esse coraçãozinho. 
Viver o presente trazendo aprendizados seus e de mais uma tropa do mesmo time, sem apego ao passado. Vislumbrando o futuro, sem deixar de estar aqui em cada precioso momento. 
Românticos apaixonados, descrentes no amor, e esperançosos em encontrar sua alma gêmea. 
Romantismo onipresente? Nada disso, isso é coisa particular demais. Complexidade sim. 
Querer o mundo enquanto come um sanduíche que talvez esteja vencido e completa com pizza fria e coca sem gás. 
Efemeridade e superficialidade? Jogo rápido? Dificilmente encontrará pouso nesse navio. 
Sexo casual não tem a ver com envolvimento. 
Não é fácil se envolver com quem tem por ideal de vida seguir alguns valores a qualquer custo não hesitando sequer questioná-los. 
Por entender a importância das relações, prezar por amizades leais é mantra. Família é base. Coração sempre intenso. 
Confusão e borboletas. A cabeça de qualquer um fica atropelada, muito ritmo. 
Quem quer paz e normalidade, foge para as montanhas. Tem gente que depois de passar um tempo junto fica meses ou anos desacelerando. 
É necessário culhões; curtir, senão se violenta. 
Ativismo social? Meio regra. 
Muita energia para uma turma só, enlouquecem várias. Provocam quem chega perto só para testar a capacidade. Lugar comum é repelido com refluxo gástrico. 
Depois de (con)viver com alguém assim, jamais cura-se totalmente. E nunca mais os relacionamento, seus ou de outros, serão iguais. A ponto de sentir inveja por serem todos exatamente iguais, mornos e tediosos. 
Suicídio de uma vida passada, e entender que finalmente nasceu pra vida. 
É adeus aos dias de paz. A normalidade. Ao simplório. É a complexidade do detalhe simples. É a paz inquietante do vivo. 
Nem todos os empresários são tão elétricos, empolgados ou intensos. Nem todos fazem dinheiro. Nem todos sabem o que estão fazendo no mundo. Muitos sequer entendem o que significa empreender. 
Empresários de verdade, que sabem, pensam igual. Estão sintonizados e entendem o que falo. 
Muita gente que não quer empreender também entende. 
Pensei em tudo isso e concluí que a solidão se justifica. Os loucos são raros. Admiramos pessoas que curtem paz, e essas não curtem quem vive em caos. 
É tudo muito bom e legal, mas tem um preço caro demais a se pagar, sobretudo para quem não vive essa vida. 
Pensei em rodriga para o nome da guaipeca, o que lhe parece?     


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 14.05.2016
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br