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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Não Julgar

Uma das minhas colegas de trabalho sempre briga comigo alegando que eu julgo as pessoas. Ela defende que não devemos julgar, pois não sabemos qual a realidade de cada um e que o que percebemos necessariamente não é o completo. Eu discordo e explico o motivo.
Estávamos deliberando sobre uma conhecida em comum que, de uma hora para outra começou a maquiar-se, envaideceu, começou a sorrir mais, a vestir-se melhor, etc. O detalhe é que ela é casada. Foi então que eu comentei: "Ela deve estar traindo o marido, pois uma mudança radical assim não acontece sem um motivo".
Pronto, minha colega surtou. Disse que eu venho com essa balela de ler pessoas, que esses estudos neurolinguísticos não tem fundamento e que eu não posso pegar apenas um fato isolado como esse e alegar que a coitada é promíscua. Que eu fico julgando as pessoas e que isso é errado. Que ela não julga e que não devemos julgar. Resumindo, tentou repreender-me como se eu fosse uma criança.
Ofendi-me e redargui. Primeiro que uma mudança brusca em coisas importantes como o comportamento, a autoestima, a vaidade e afins, necessariamente, são desencadeados por algo, quer ela queira reconhecer ou não, ninguém muda sem um motivo. Segundo que todo e qualquer ser consciente julga, faz parte do instinto de sobrevivência.
Estamos permanentemente julgando tudo e todos. Se eu estou andando na rua de noite e vem alguém em minha direção, eu olharei para a pessoa e efetuarei uma avaliação. Isso é automático, líquido e certo. Ou então eu darei a oportunidade para que um marginal me assalte, esfaqueie e assassine simplesmente porque não devo julgar aquele ser mal vestido, mal encarado e com claros sinais de más intenções que avança contra mim?
Avaliamos os comportamentos constantemente. Eu gosto de pessoas inteligentes, logo, sempre avalio os que me cercam e se as considero abaixo de normalidade, já não classifico como potencial companheiro de tergiversação. Notem, isso é um julgamento. Conversei com a pessoa e a julguei burra ou inteligente, seguindo meu próprio critério e parâmetro. E é assim mesmo que acontece em nossa vida.
Eu julgo a empresa em que trabalho, meus parentes, minha consorte, meus amigos, os famosos, os desconhecidos... Quem consegue abstrair e não julgar ao ver outra pessoa praticando um ato reprovável?
Julgar é necessário ou então sofrerei as consequências dessa negligência, que vão desde sofrimento emocional proveniente de pessoas inescrupulosas que estão sempre prontas para tirar algum tipo de vantagem dos imprecatados, passando por falta de zelo na escolha por ambientes salubres e chegando até os amigos ou cônjuges.
Naturalmente selecionamos em nossa vida e isso é essencial. Somos o resultado de um acúmulo de experiências. Se eu sei que maionese estragada provoca dor de barriga, eu tomo mais cuidado quando for comer maionese novamente. Se eu já apanhei por provocar alguém, certamente não mais provocarei pessoas do mesmo tipo. Se eu sei que botar o dedo na tomada dá choque, não mais o farei. Isso diferencia seres conscientes de coisas que não pensam.
Se eu sei que garotas que vestem-se libertinamente, de acordo com minha experiência, não são emocionalmente confiáveis por não saberem o real sentido de fidelidade, e eu quero um relacionamento sério, fundamentado em reciprocidade, lealdade e integridade, certamente quando estiver avaliando potenciais candidatas a namoradas, desconsiderarei esse nicho. E isso é um julgamento escancarado. E não está errado.
Aliás, nem precisamos ir tão longe. Se eu não gosto de pessoas que vestem-se da forma supracitada e vejo uma garota que se porta como alguém que vestir-se-ia assim, certamente eu nem me atreveria.
Assim como homens que gostam de mulheres desbocadas, seguras, decididas e taradas, ao verem uma mocinha encabulada e toda certinha, falando manso e vestindo branco e rosa, sem decotes e com uma "chuquinha" no cabelo, nem perdem tempo.
Julgar faz parte e não está errado, o que precisamos, isso sim, é darmos oportunidade às pessoas e aprendermos a aceitar as diferenças e as pessoas como são. Talvez a pessoa lá do início não estivesse traindo, tudo bem, chega a ser um absurdo, mas não significa que eu estivesse errado. Significa que eu fiz um julgamento pejorativo que servia apenas para denegrir a imagem dela e não para algo produtivo a mim.
No final, talvez essa minha colega apenas queria dizer para julgar apenas quando necessário e quando tiver um propósito produtivo. Mas depois que aprendemos a fazer, pisar no freio é complicado, e isso fica para quem sabe outro texto...


Publicado em: A Tribuna Regional no dia 1.09.2012
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa
Escrito por:  @rjzucco