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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pitangueiras


Uma das coisas que mais me entristecia na capital era a falta de árvores. Sempre gostei do cheiro úmido do mato, o barulho das folhas dançando com o vento. A brisa lambendo as flores e espargindo pólen e perfume pelo ar...
Nunca fiz distinção entre elas, embora reconheça que as frutíferas sempre me alegraram mais. Sou uma criança declarada. Não posso ver um pé de ameixinha amarela e quero subir e comer sentado nos galhos. Ameixa vermelha então, comia até dar dor de barriga.
Por infelicidade do destino, minha fruta preferida não é vendida em mercado, fruteira ou o que quer que seja. A pitanga só pode ser apreciada direto da fonte. Ou acha-se uma pitangueira e delicia-se de suas maravilhosas frutinhas, ou nunca as conhecerá.
Talvez por ser muito delicada, embora rupestre, a frágil pitanga não aguenta acondicionamentos nem tampouco transportes. E isso sempre me frustrou muito. Abandonar o interior significou por muito tempo abandonar também esses hábitos simples.
Hoje felizmente voltei a morar em Santo Ângelo e o destino que outrora castigara-me, agora presenteia-me com uma pitangueira justo no prédio em que moro.
Mas a vida de um apreciador de sabores peculiares não é fácil. Nos fundos desse mesmo prédio, no meio do pátio do vizinho, há uma pitangueira que dá fruto o ano inteiro, como se estivesse abanando para mim provocantemente. E não posso nem invadi-lo furtivamente, pois há lá dois cães de guarda.
Não obstante, agora em época de pitangas, passeio pela cidade e vejo uma quantidade gigantesca de pitangueiras – mais de 10 para mim é um horror, já que não tinha nem uma na capital – todas com frutas maduras, mas que por fatalidade já foram atacadas por crianças mais rápidas e com mais tempo que eu, e que agora só possuem frutas na parte superior das copas.
Sim, só posso ficar olhando. Não tenho como sair subindo nas pitangueiras das casas de qualquer pessoa.
Mas o ponto principal é que a pitangueira do meu prédio resolveu me sacanear esse ano. Não está dando frutas. Imaginem o desaforo?!
O mesmo destino que a colocou em meu habitat, agora me ludibria. Chego ao ponto de parar diariamente e ficar conversando com a fazida, já que dizem que falar com plantas é bom, que elas gostam e tal.
Se alguém tiver uma pitangueira em casa ou souber de algum lugar onde eu possa passar algumas tardes inteiras usufruindo da melhor fruta que existe, por favor, salve este pobre pseudo-escritor dessa tristeza sem fim. Ligue-me, mande-me um e-mail, um tuíte, um recado no face ou qualquer coisa que o valha. Agradecer-lhe-ei para sempre.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 26.10.2013

Editado/corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br