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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mediocridade




“A incapacidade para criar e apreciar a excelência, ou seja, a mediocridade, é necessária para a estabilidade social: um mundo de gênios seria ingovernável. Todavia, possui também uma vertente maligna que procura destruir qualquer indivíduo que se destaque.”
“Quando surge um verdadeiro gênio no mundo, podemos reconhecê-lo pelo seguinte sinal: todos os medíocres conspiram contra ele.” Foi assim que o médico, aventureiro e escritor irlandês Jonathan Swift (1667–1745), autor de As Viagens de Gulliver, resumiu a eterna tensão entre excelência e mediocridade, duas características da psicologia humana que exercem grande influência no funcionamento da sociedade. “Cada uma se rege pelas suas próprias leis e ambas são necessárias: uma promove o progresso, a outra assegura a estabilidade social.”
Assim começa um dos melhores textos que já li da Super Interessante de março de 2011.  O texto considera gênio quem é criativo e busca sempre ver o lado bom em cada um e em todas as coisas, e considera medíocres pessoas que ao invés de tentarem ser melhores, preferem falar mal e boicotar os competentes.
A pesquisa do texto levantou três tipos de mediocridade: a comum, que é inofensiva e faz com que os humanos se adaptem facilmente mesmo não gostando muito do que fazem; a pseudocriativa, que além das características anteriores, tenta minar a criatividade dos outros. Esse segundo tipo é o mesmo já citado por mim em outro texto e fala sobre como esse tipo tem necessidade de ostentar algo que não possui; e o terceiro tipo, que é o pior, pois se propõe e se esforça de todas as formas em destruir o gênio.
Cito esse texto justamente agora pois tenho visto que no Facebook há uma crescente onda de néscios engajados em denegrir boas idéias, opiniões próprias e fundamentadas, criatividade, gente com personalidade e opinião formada.
É bem simples, basta que alguém crie algo novo, tenha uma idéia autêntica, original e que consiga pensar “fora da caixa” para ser apedrejado virtualmente. O bullyng do colégio passa vergonha perto do que sofrem as pessoas que tem a capacidade de pensar por si com idéias próprias.
Ou se curva à mediocridade néscia, ou aceita a crucificação com todas as chagas que lhe são devidas de acordo com a massa rotulante.
Não há mais tolerância com o pensamento alheio. Não se pode ter convicções sobre determinado assunto a não ser que ela seja absolutamente idêntica à massa ignorante, ou a mesma fará um esforço desproporcional para não apenas desqualificar sua idéia como também a sua pessoa e queimar em praça pública seus valores e caráter, colocando-o numa fogueira de bruxas, ardendo por fazer a mágica da opinião firme.
Não sendo suficiente não poder pensar diferente, é necessário não pensar e não manifestar, sob pena de ser ofendido pessoalmente ou mesmo agredido fisicamente.
Outra parte do texto que endossa esse meu raciocínio é: “Será possível que estejamos condicionados por uma espécie de seleção cultural que nos condena à imbecilidade?”(sic), questiona o escritor italiano Pino Aprile no seu livro Elogio do Imbecil. Conclui que sim e que existe uma razão para todos os sistemas sociais advogarem a mediania: “A inteligência é como a areia que se introduz nas engrenagens: pode obstruir os mecanismos. O génio é subversivo, não apenas por discutir a norma em vez de a aplicar, mas também por blo­quear, através da sua atuação, o percurso habitual de qualquer sistema burocrático”(sic). Por isso, segundo o autor, “o poder de uma organização social humana será tanto maior quanto maior for a quantidade de inteligência que conseguiu destruir”.
A sutileza insidiosa que domina a sociedade não impera o mundo virtual, onde as pessoas dão as caras e corroem com toda a acidez que impediram escapar pelo canto da boca no dia a dia frustrante e medíocre.
Uma das explicações é abordada pelo princípio de Peter, e embora não seja a única, faz sentido. Segue: “Numa empresa ou organização, qualquer trabalhador tende a ascender até atingir o seu nível de incompetência.” Se nos promoverem devido aos nossos méritos, acabaremos por ocupar um cargo para o qual não temos competência e deixaremos de nos destacar (e de ascender), permanecendo enquistados no nosso nicho de mediocridade. Uma das consequências é que quem alcança o seu nível de incompetência poderá sentir-se tentado a boicotar os subordinados de forma a não serem promovidos (ou mesmo a serem despedidos). Assim, acaba por agir como uma espécie de tampão involuntário para as próximas gerações. Os norte-americanos, que levam muito a sério a questão da eficiência, adiantaram algumas soluções, como a de premiar um bom trabalhador com um aumento salarial em vez de uma promoção. Todavia, parece que entram em jogo outros fatores no complexo sistema da mediocridade.
O que fica então é o voto aos gênios para que não desistam, pois as mudanças passarão necessariamente por suas mãos, mesmo que os medíocres tentem boicotá-los.
Obs.: Tem um teste no final para verificar se você é gênio ou medíocre.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 11.01.2014
  Corrigido por Josiane Brustolin
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br