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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Despedida




 “Mastiguei a fala, negaciei a mágoa, só para ver a lágrima feliz”

Este trecho de um dos meus Chamamés preferidos resume, magistralmente, um dos mais paradoxais sentimentos que existem quando a felicidade e a alegria confundem-se, transformando em um turbilhão de pensamentos e sentimentos, algo que, de tão corriqueiro, deveria ser trivial: a Despedida.
Quando um bom colaborador sai da empresa, quando um fantástico colega troca de emprego, quando bons amigos precisam seguir outros caminhos em outras cidades, ou quando pessoas que amamos precisam quebrar os vínculos emocionais que nos prendiam a algo que não era mais apenas pura felicidade, ficamos com essa sensação de não sabermos direito em que pensar ou como agir.
Quando alguém precisa partir e, mesmo ao sabermos que o melhor para todos é que isso aconteça, relutamos em aceitar o convencional caminho da resiliência. Normalmente, sofremos, choramos, “mastigamos” a fala antes de uma despedida. Enxergamos apenas a escuridão do adeus e não a luz das novas oportunidades. Negaciamos a mágoa, para não sentirmos por completo o torpor da despedida.
Aperto no estômago e nó na garganta são os mais tradicionais sintomas da dualidade, quando precisamos nos despedir e queremos continuar perto.
Infelizmente, a vida nem sempre é clara e fácil, e nos força a aprendermos da maneira mais dolorosa e difícil. Escolher, conscientemente, algo que, emocionalmente, fere-nos é ilógico.
Afastar-se, por ser melhor, profissionalmente, mesmo querendo continuar perto por afinidades ou mesmo acomodação, não parece certo.
Romper um relacionamento, por saber que não fará a pessoa feliz, como ela merece, mesmo querendo continuar, ou até levar um “pé na bunda” (que, segundo o Renato Tobias, “ te empurra para frente”), por a pessoa não gostar mais de nós é muito mais sábio e verdadeiro do que continuar anos a fio em algo que nunca será pleno.
E, ainda assim, é difícil aceitar essa realidade cruel. Às vezes, entendemos que é o certo e o melhor, mas não conseguimos explicar ao coração, que teima em sofrer.
Lembro-me ainda dos longos anos, quando namorei a distância. Cada despedida era um tormento, e a experiência não fazia arrefecer a angústia de ter que partir querendo ficar e ter que deixar quem gostaria de levar junto.
As lembranças vão no peito e na bagagem, bem como o aprendizado e a experiência; um pedaço do coração quebrado, entretanto, sempre fica... ...na mão.
Muitos consideram a despedida uma perda; Não levam em conta, todavia, algumas perdas como ganho completo, afinal, quando se perde o que não soma, não se perde, ganha-se.
Somos crianças obliterando a racionalidade, quando se trata de sentimentos. Engatinhamos, contudo, ao encontro de maturidade e de realização, e isso torna tudo, fantasticamente, novo e desafiador, a cada instante. Feliz daquele que sabe chorar sorrindo e sorrir chorando, com a ingenuidade pura e genuína de uma criança!
PS: Chamamecero, é um chamamé de Mauro Moraes.

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 30.08.2014
Revisado por Cristiano Zucco
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br