Pesquisar este blog

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Ocupação das escolas





Estou participando de um projeto que visa fomentar o empreendedorismo nos jovens. Atualmente, temos quatro "miniempresas" aprendendo como é todo esse processo de criação de um projeto, desenvolvimento de um produto, produção, marketing, vendas, financeiro, impostos, etc. 
Uma das escolas é o Pedro II. Nessa escola está ocorrendo um movimento de ocupação. 
O movimento é fantástico! 
Os alunos têm um nível de politização que jamais a minha geração com a idade deles pensou ter. Entendem um pouco de política, de economia, de mercado, de governo, entre outras coisas. 
Eles reivindicam melhor salário e repasse integral e não parcial aos professores. Querem um novo cardápio para a merenda e que de fato o dinheiro para isso chegue até a escola. 
A causa deles está certíssima. Eu e qualquer pessoa que pensa no futuro da nação entende que isso é fundamental. 
Salário ruim aos professores é um absurdo! Não ter dinheiro para merenda deixa muita gente sem ter o que comer no dia e isso é assustador. 
Questionei qual seria a proposta de solução para a luta deles. A maioria respondeu com muita insegurança e com argumentos que não servem na prática. 
Fazer um movimento onde a escola é fechada, sem trazer uma proposta de solução, dificilmente gerará algum resultado consistente. 
Insisti com eles para pensarmos em algo. Defendi que devemos sim continuar lutando pelo que eles querem, que é claramente o correto a fazer, e que deveríamos trazer junto uma proposta de solução. Apenas apresentar um problema e dizer "se virem" não dá certo. 
Nesse momento alguns representantes da União da Juventude Socialista vieram trazer mais consistência para as respostas e ao debate. 
A solução apresentada por eles era aumentar os impostos, mas não de todo o povo, apenas de quem é muito rico e possui aviões particulares. Impostos sobre aviões particulares. 
Segundo eles, como ganham muito mais e tem condições de comprar aviões, devem pagar mais impostos e custear o rombo do Estado. 
Então questionamos se a solução para a falta de dinheiro seria mais impostos. Eles informaram que seria uma saída a curto prazo. 
Questionei se o problema era de todos nós, por que apenas alguns deveriam custear a solução? Questionei também se uma menor quantia de toda a população não arrecadaria mais do que uma quantia de poucos. Um milhão dos caras dos aviões? Ou um real de 10 milhões de gaúchos? 
Eles alegaram que eles eram pobres, não tinham dinheiro e que quem tem é que precisa pagar. Eu entendo que essa não é a solução. Não é onerando uma pequena parcela que se resolve. 
Mesmo porque esse pessoal acabaria saindo daqui, iria para algum lugar em que não fosse necessário pagar esse absurdo de impostos. Mais de 40% de todo dinheiro do cidadão já é imposto. 
Então eles sugeriram que o Sartori não deveria segurar o dinheiro. Que ele tem, mas que segura e vai pagando aos poucos e isso desaquece a economia, freando a circulação de dinheiro. 
Perguntei se eles tinham certeza que o dinheiro existia e se a prestação de contas era uma mentira então. Se o que era divulgado publicamente que a arrecadação é menor do que as despesas não era verdade. Aleguei que recebemos 10 e temos que pagar 15, e que ninguém está segurando, apenas não tem de onde tirar. 
Eles falaram que então o Estado deveria apertar a fiscalização dos impostos, pois há muito mais a ser arrecadado e negligentemente não é feito. 
Questionei então se a saída deveria ser mais impostos, eles confirmaram. 
Perguntei o que eles fariam quando as empresas que hoje geram riqueza e empregos começarem a declarar absolutamente tudo (e é sabido que grandes empresas sonegam muito) e por isso demitirem gente por não ter como pagar, e consequentemente produzir menos, e consequentemente gerar menos impostos e arrecadar menos? 
Me responderam que isso não aconteceria, que as empresas devem sim pagar e que se quebrar é porque estavam erradas. 
Concordo que sonegar é absolutamente errado e que não deve ocorrer. O que não muda o fato de que se grandes empresas declararem tudo, milhões de pessoas ficarão desempregadas e consumirão menos, gerando menos impostos, tornando o governo mais pobre ainda. 
Alegaram que é dever do estado gerar emprego e prover habitação para todos. Concordo. Questionei como isso deveria ser pago, não tive resposta objetiva. 
Acredito que eles não haviam seriamente se questionado sobre isso tudo ainda. Espero honestamente continuar o debate e junto pensar em uma solução que não seja utópica. Que de fato possa ser atingida. 
Defendo que lutem por melhores condições com o que tem hoje, mas que não esperem pelo governo. Busquem alternativas, peçam doações. Tentem produzir algo que gere recursos para escola e que com isso consigam uma melhor merenda e quem sabe até melhores salários para os professores. 
Concomitante a isso a militância precisa continuar. Precisamos acreditar que é possível mudar tudo isso que está errado, mas não apenas esperando que o governo provenha. Buscando isso mas trazendo alguma solução e paralelo agindo de forma alternativa para, até que o moroso governo se transforme ou providencie a solução, não continuemos passando fome. 
Coloquei-me a disposição não só para o debate como para auxílio do que também acredito. A educação é a ÚNICA solução para o Brasil. 
Juntos podemos muito mais do que cada um puxando para um lado. 
Registro aqui meus sinceros parabéns e respeito aos alunos da escola Pedro II que ocuparam a escola por acreditar em seus ideais. Por lutarem por isso e seguirem firmes em suas convicções. Pelo nível de politização, que tão jovens já possuem, e principalmente pela coragem. 
Vocês estão mudando o país!     

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 21.05.2016
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br