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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Nota de Falecimento



Sabe que desde muito pequeno, e me lembro ainda de quando meu avô faleceu, e que eu tinha bem pouca idade - algo em torno de 4 ou 5 anos -, nunca fui muito apegado a falecimentos.
Lembro que não dei muita importância para isso. Não sei exatamente porque, mas sei que sempre gostei mais de celebrar os vivos e os momentos de vida do que o falecimento.
Quando penso em reencarnação e em vida após a morte, sempre considero que, se de fato isso existe, então eles tem coisas mais importantes a fazer do que ficar nos importunando ou se ocupando conosco, meros mortais de tão efêmera passagem. Crença minha e que nunca tentei convencer quem quer que seja a respeito, assim como respeito a crença dos outros.
Se não penso em reencarnação – e normalmente não creio muito nisso, nem em vida após a morte - então acredito que quando alguém falece, acaba ali. Tudo tem um fim!
Pois bem, seguindo essa linha de raciocínio, ou qualquer outra linha que ao meu ver seja saudável, ficar dando importância e atenção ao que já passou não faz o menor sentido.
Vejo muita gente que quando perde alguém chora, se desespera, tenta suicídio, entra em depressão, não sabe mais como lidar com a vida. Considero tudo isso de uma fraqueza absurda. Aliás, considero tudo isso absurdo.
Lembro que quando minha saudosa mãe faleceu, em dois dias já havia retomado minha vida normal, pois considero de um egoísmo incomensurável ficar querendo que as pessoas que gostamos permaneçam conosco o tempo que nós achamos e definimos certo. Faz parte da vida deixarmos os outros partirem e seguir seus caminhos. É muito egoísmo querer que as pessoas fiquem o tempo e da forma que queremos conosco.
Com meus irmãos foi a mesma coisa.
Estou falando isso pois estávamos passando essa semana em frente ao cemitério onde minha família está sepultada e perguntaram-me se eu queria entrar e verificar se a lápide estava em bom estado, se não estava sujo, se eu não desejava efetuar alguma oração ou qualquer coisa do tipo.
Informei que não e as pessoas se surpreenderam, e fizeram cara de “Como assim? Você não gosta de sua mãe?”. No que eu respondi: “Isso não tem nada a ver com os sentimentos e memórias que nutro pela minha queria mãe, e sim em como eu vejo o mundo. Na minha concepção, precisamos zelar e cuidar dos vivos e não ficar reverenciando túmulos e mortos”.
Vejo com tristeza e pesar pessoas colocando notas de falecimento no jornal. Mas notas de um mês, um ano, dois anos, dez anos. Esses dias cheguei a ver uma nota de falecimento de vinte anos.
Meu Deus o que é isso? Quanto sofrimento essa pessoa deve passar? Ficar contando o aniversário de falecimento durante vinte anos?
Puxa vida, se existe mesmo vida após a morte, essas pessoas não estão descansando. Se não existe, fico pensando em que vida mais triste deva ser a dessas pessoas que não conseguem se desapegar dos que já passaram e não conseguem se ver livres desses sentimentos por alguém que há muito se foi.
Passar anos e anos lastimando a perda de alguém não é, independente do que digam, saudável e não arranjo meios que me façam entender como pode existir esse lúgubre hábito entranhado na rotina de quem quer que seja.
O mundo tem tanta coisa boa para ser aproveitada, tanta gente especial para nos fazer companhia e compartilhar alegria, que ficar celebrando morte e seus aniversários não deveria mais existir.
Espero que o dia em que eu falecer tenha nota de falecimento e no máximo de missa de sétimo dia – e, preferencialmente, que esteja cercada de notas de nascimento, casamento e festas de formatura ou outras comemorações, pois pretendo, quando partir, estar tranquilo e seguro de que estive sempre cercado por pessoas que vivem do presente e que celebram as coisas boas e positivas e não tristezas e coisas ruins.

E você? Dá mais atenção às coisas positivas? Ou costuma se ater ao que lhe entristece? Veja sempre o lado bom da vida! Celebre a felicidade!

Publicado em: A Tribuna Regional no dia 18.04.2015
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br

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